A polícia nigeriana alertou esta segunda-feira que irá impedir qualquer manifestação em Lagos que assinale o aniversário do movimento contra os abusos policiais, que abalou o país mais populoso de África no ano passado.

O movimento #EndSARS teve início em outubro do ano passado contra o Esquadrão Especial Antirroubo (SARS, em inglês), uma força policial acusada por grupos de defesa dos direitos humanos de ter matado e torturado cidadãos nigerianos.

O movimento ganhou notoriedade nas redes e plataformas sociais e acabou por se transformar num protesto contra as autoridades, gerando as maiores manifestações antigovernamentais na história recente da Nigéria.

O comissário da polícia de Lagos, Hakeem Odumoso, afirmou esta segunda-feira que recebeu informações sobre “planos clandestinos de alguns jovens, indivíduos ou grupos para embarcar” numa manifestação e alertou os que poderiam planear fazê-lo.

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“Para evitar qualquer deterioração da ordem pública, a polícia utilizará todos os meios legítimos previstos que lhe são conferidos pela Constituição para suprimir manifestações”, disse, numa declaração citada pela agência France-Presse.

A contestação, que contou com uma forte mobilização de jovens, teve início depois de um vídeo de agressões alegadamente cometidas por membros do SARS ter sido divulgado nas redes sociais.

Como resposta aos protestos, o Governo nigeriano anunciou, há exatamente um ano, que iria desmantelar esta força policial, mas tal não foi suficiente para demover os manifestantes, que continuaram a reclamar o fim das agressões por parte das forças de segurança.

De acordo com a organização Amnistia Internacional, pelo menos 56 pessoas morreram desde o início dos protestos, em 8 de outubro, incluindo 38 em 20 de outubro, na praça Lekki, em Lagos.

Desde então foram constituídas comissões de inquérito para investigar a violência policial e os acontecimentos de 20 de outubro, mas as audiências têm sido interrompidas de forma frequente.

“Ninguém pode sufocar a vontade dos nigerianos”, escreveu Omoyele Sowore, ativista do movimento, nas redes sociais, acrescentando que se irão realizar marchas comemorativas de 20 de outubro.

Os protestos realizaram-se um pouco por todo o país, que conta com uma população superior a 196 milhões de pessoas, com principal destaque para a maior cidade, Lagos, a capital, Abuja, e outras importantes cidades, como Port Harcourt, Calabar, Asaba e Uyo.

Além dos confrontos entre polícia e manifestantes, nos últimos dias, a Nigéria foi também palco de pilhagens e roubos a supermercados e bancos.

A campanha para o fim do SARS reuniu apoio internacional, incluindo de membros do movimento Black Lives Matter e do cofundador da plataforma social Twitter Jack Dorsey, que partilhou várias publicações de manifestantes nigerianos.

A Nigéria é o maior produtor de petróleo de África, mas o país sofre um abrandamento da sua economia e um desemprego em massa, especialmente entre os jovens, agravado pela crise resultante da pandemia de Covid-19.