O presidente da Assembleia da República defendeu esta segunda-feira que a revolução de 1820, apesar da sua “curta duração”, teve uma “enorme repercussão” histórica, sendo a tradição liberal e constitucionalista responsável pela “existência do Parlamento tal como o conhecemos”.

Falando na sessão solene de abertura do Congresso Internacional do Bicentenário da Revolução de 1820, que arrancou esta segunda-feira na Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues salientou ser seu “dever” e “responsabilidade” abordar “os acontecimentos, as figuras e, mais que tudo, os valores e princípios que representa a tradição liberal e constitucionalista aos quais se deve a existência do Parlamento tal como o conhecemos”.

A fragilidade e a incerteza da revolução de 1820, e a sua própria curta duração, contrastam com a enorme repercussão que veio a ter na história, mesmo para além das fronteiras nacionais, ecos que chegaram à Rússia e à Índia como hoje podemos aferir”, salientou.

Segundo o presidente da Assembleia da República, o Congresso irá procurar “aprofundar as grandes linhas de interpretação que integram o amplo legado historiográfico” da revolução liberal de 1820, contando para tal com “um leque de apresentações e de oradores de excelência, nacionais e de além-fronteiras”.

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Ferro Rodrigues indicou que, durante os três dias do Congresso, as intervenções irão centrar-se “nas temáticas do desenvolvimento económico, das mudanças políticas e das transformações sociais que antecederam a revolução de 1820 e todas aquelas que lhe sucederam e que estão na base da formação do Portugal contemporâneo”.

Salientando assim que o grande objetivo do evento é o de “conhecer melhor” o legado da revolução liberal e “perceber o porquê da sua atualidade 200 anos depois”, Ferro Rodrigues destacou que o Congresso se enquadra no programa das comemorações do bicentenário do Constitucionalismo português, que começaram em 2017 e que terminarão em 2026 com a celebração dos 50 anos da Constituição da República Portuguesa de 1976, tendo como lema “Celebrar a liberdade, 200 anos de Constitucionalismo”.

O presidente da Assembleia da República defendeu que as comemorações em questão — que já contaram, entre outras iniciativas, com exposições dedicadas aos 150 anos da abolição da pena de morte e da escravatura — foram organizadas pela Assembleia da República com o objetivo de “contribuir para a divulgação pública da atualidade dos ideais liberais, republicanos e democráticos”.

Ferro Rodrigues endereçou assim uma palavra ao professor Guilherme de Oliveira Martins, que presidiu às comemorações do bicentenário do Constitucionalismo e que, na quinta-feira passada, foi eleito pela Academia Brasileira de Letras como um dos quatro novos Sócios Correspondentes da instituição, agradecendo-lhe o “apoio, generosidade e empenho amigo” nas celebrações.

“Estou certo [que], tal como o seu antecessor, o saudoso professor Eduardo Lourenço, saberá honrar as cores nacionais e a cultura portuguesa de que é, sem sombra de dúvidas, uma das maiores referências”, afirmou.

O Congresso Internacional do Bicentenário da Revolução de 1820, que esta segunda-feira arrancou, era para ter decorrido no ano passado, mas foi adiado para este ano devido à pandemia de Covid-19.

O Congresso irá prosseguir na terça e quarta-feira na Fundação Calouste Gulbenkian, com historiadores nacionais e estrangeiros a debaterem a Revolução Liberal de 1820, considerada pela presidente da comissão organizadora, Miriam Halpern Pereira, como constituindo o “nascimento do regime liberal em Portugal”.