O petroleiro FSO Safer, que está abandonado no Mar Vermelho, ao largo do Iémen, está à beira de provocar um derrame de petróleo que pode vir o pior de sempre em termos ambientais e humanitários, de acordo com um estudo publicado no Nature Sustainability e levado a cabo por académicos das universidades de Stanford, Harvard e Berkeley.

O navio, abandonado desde 2017, tem a bordo mais de um milhão de barris de crude — quatro vezes mais do que tinha o Exxon Valdez, o navio que provocou o pior derrame registado até hoje, no golfo do Alasca (1989). A confirmar-se, será um desastre que afetará o Iémen e também a Arábia Saudita, a Eritreia e o Djibouti.

Segundo o estudo, o derrame afetará potencialmente toda a pesca do Mar do Vermelho em apenas três semanas e pode deixar oito milhões de pessoas sem acesso a água potável. Também os efeitos na poluição do ar serão notórios, com um aumento do risco de hospitalizações por doenças cardiovasculares e respiratórias.

O provável desastre ambiental ocorre precisamente numa região do globo que enfrenta um conflito sangrento, que já matou mais de 100 mil pessoas e deixou mais de 12 milhões em necessidade extrema. À Al-Jazeera, Bejamin Huynh, um dos autores do estudo, lembra que “um derrame irá certamente exacerbar o desastre humanitário no Iémen”. Num país onde mais de metade da população sobrevive graças a ajuda humanitária, esta ficaria seriamente comprometida em caso de derrame, já que 68% desses apoios entram no país pelos portos de Hodeidah e Salif, perto do local onde está o Safer.

A resolução para o problema do FSO Safer arrasta-se devido a um braço de ferro entre os rebeldes Houthis (uma das partes beligerantes, por oposição à coligação liderada pela Arábia Saudita) e as Nações Unidas. Desde março que a ONU quer enviar uma equipa para inspecionar o navio, mas esse pedido não tem sido aceite pelos rebeldes, que exigem que as Nações Unidas se comprometam com as reparações necessárias a bordo. “À medida que o assunto foi sendo tão politizado, penso que o potencial sofrimento de milhões de pessoas está a ser ignorado ou até explorado para fazer avançar agendas políticas”, declarou Huynh.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR