Fernando Medina vai renunciar ao mandato de vereador para o qual foi eleito, como o próprio confirmou em carta enviada à Assembleia Municipal à qual o Observador teve acesso e que foi noticiada pelo Expresso. O presidente cessante da Câmara Municipal de Lisboa explica que se afasta para não ser um obstáculo a governação de Carlos Moedas: “A minha saída da câmara municipal facilita a vida aos futuros órgãos da autarquia, reduzindo o nível de pessoalização do debate“. Apesar de Medina falar numa “decisão individual”, há uma estratégia mais global do PS de não obstaculizar a gestão do novo presidente, tal como já tinha sugerido António Costa.

Além de Fernando Medina, o Observador sabe que há outros vereadores eleitos na lista do PS que devem acompanhar a saída, como é o caso de Inês Lobo, Inês Ucha, às quais se poderão ainda juntar Maria João Rodrigues e Álvaro Amorim Pinto, naquilo que seria uma verdadeira debandada da lista originalmente escolhida por Medina.

A nova equipa do PS até pode ter menos “irritantes” com Carlos Moedas, mas isso não significa que o PS abdique de fazer oposição e mesmo através da Assembleia Municipal, mais um instrumento de contra-poder da esquerda (além da maioria no executivo). Os socialistas não descuram o papel da AML (onde a esquerda tem a maioria). Se o PS (17) chegar a acordo com PCP (6), BE (4) e PAN (1) o PS consegue uma maioria de 28 deputados municipais contra apenas 23 do outro bloco (17 dos Novos Tempos, 3 da IL e 3 do Chega). Uma eventual coligação à esquerda pode até, se for caso disso, escolher um outro presidente da AML que não a cabeça de lista da força mais votada (Isabel Galriça Neto, do CDS e da coligação Novos Tempos).

A direita teme que uma geringonça afaste Galriça Neto da liderança da AML, embora o Observador saiba, junto de fontes próximas do processo, que o PS vai reunir em breve também com PSD e CDS na procura de uma lista de consenso. Entretanto, já reuniu também com o Bloco de Esquerda.

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A concelhia do PS reúne-se esta terça-feira para definir a estratégia que, sabe o Observador, passará por não fazer uma oposição destrutiva, de terra queimada, mas por uma “negociação proposta a proposta”. Por outro lado, nas juntas de freguesia a estratégia será diferente e os socialistas não devem aceitar integrar nenhum executivo para se continuarem a posicionar como oposição. Isso permite mais tarde atacar as juntas e começar, por aí, a reconquista do município.

O que disse (e para onde vai) Fernando Medina?

Na carta que escreveu, Fernando Medina destacou que esta é uma decisão individual, mas esclarece que foi “uma resolução ponderada”, que fez “escutando e ouvindo a opinião de várias pessoas ao longo da última semana”. Porém, no fim, a decisão foi “a que teria de ser sempre”.

O socialista acredita que a sua saída é “a solução que melhor serve os interesses da cidade, o funcionamento das reuniões do executivo da autarquia e a capacidade de a oposição camarária se concentrar no futuro e não no passado.”

Medina diz ainda que não deixará “nunca de ter uma profunda ligação à cidade” e faz uma declaração de amor: “Lisboa é a cidade da minha vida.” O presidente cessante destaca ainda que deixa Lisboa com “uma sólida situação económica financeira e um vasto conjunto de projetos em curso — continuando sempre civicamente ativo e empenhado” no que considera ser melhor para Lisboa.

Sobre o futuro de Fernando Medina nada se sabe ainda. Há vários comentadores políticos que apostam que António Costa o vai acabar por levar para o Governo. Na oposição da autarquia fala-se que poderia assumir a presidência da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. No entanto, o Público escreve esta terça-feira que, para já, Medina regressa ao cargo de economista do AICEP.