O ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, disse esta segunda-feira que a sustentabilidade ambiental criada para o país deve assentar numa “segunda geração de políticas” que promovam a “produção de riqueza”.

Depois de uma “primeira geração” de políticas “de base infraestrutural” que avançaram o país em questões até de saúde pública, com, por exemplo, sistemas de esgotos e saneamento básico e uma boa gestão de resíduos, “há claramente uma segunda geração de políticas que é a de produção de riqueza a partir da sustentabilidade”, destacou esta segunda-feira o governante, durante uma lição de sapiência na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, com o tema “Sustentabilidade: investir no presente”, em que o responsável pela pasta do Ambiente defende que se deve apostar e agir.

“Criaremos uma situação de insustentabilidade para a vida de cada um de nós se a economia deixar de existir. A economia não pode crescer fundada nos fósseis, na matéria-prima e mão-de-obra barata. Não pode crescer assim, não pode crescer com emissões carbónicas, com base nas matérias-primas finitas, não pode crescer fazendo de conta que não se sabe. Porque sabe-se — tem limites e não os podemos exceder”, afirmou o ministro.

Destacando que “Portugal orgulha-se e orgulhar-se-á sempre de ser o primeiro país no mundo a afirmar que ia ser neutro [em carbono] em 2050”, esclareceu que “ser neutros não quer dizer que a emissão é zero, quer dizer que a capacidade que emitimos é compensada com a capacidade de sumidouro que temos”.

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Com a meta estabelecida, foi traçado “um roteiro, com três cenários distintos, e o que mais garante a neutralidade é aquele em que a economia mais cresce”, frisou.

Apesar de esse ser também “o cenário com mais consumo de eletricidade, deslocações e mobilidade, que são filhos de uma economia que cresce”, se “essas deslocações forem neutras em emissões”, o objetivo pode ser alcançado “com a economia a crescer mais, com mais emprego e com mais riqueza”.

“Em termos de investimento, do que significa ser neutro em carbono em 2050, significa investir mais dois mil milhões de euros do que é suposto em matérias da sustentabilidade”, adiantou.

O governante detalhou que os dois setores essenciais são o eletroprodutor, e “todo o setor elétrico quer dizer investimento privado”, mas há também “um grande investimento que tem de ser feito, e aqui é essencialmente público”, no setor da mobilidade. “Isto é excecionalmente importante, porque nos libertamos da utilização de fósseis e das emissões que elas provocam”, referiu, salientando também um “maior equilíbrio da balança comercial e da dependência” externa.

João Pedro Matos Fernandes defendeu também a aposta no hidrogénio verde e no biometano, para garantir a sustentabilidade de “processos industriais para os quais a intensidade energética da eletricidade não é o bastante”. É na mobilidade que o ministro vê “o desafio maior, por uma razão muito simples: mexe mesmo com cada um de nós”.

A aula começou com um vaticínio pouco elogioso para a espécie humana, que Matos Fernandes considerou ser “cobarde e imatura”, já que “saiu do meio da cadeia alimentar e passou para o topo” e mesmo assim tem “pavor de qualquer animal que seja maior”. “Mas estou sinceramente convencido de que cada vez mais o tema da biodiversidade será emergente na preocupação das pessoas dentro da sustentabilidade, e a pandemia mostrou-nos isso muito bem”, considerou.

E fê-lo ao evidenciar que “não faz sentido estar a discutir saúde humana sem discutir saúde animal e saúde ambiental”. “Temos mesmo de saber combater a nossa cobardia e conviver cada vez mais e melhor, independentemente do tamanho, com as outras espécies”, assevera.

Ao fim de seis anos como ministro, “se perguntarem onde a coisa foi menos feliz, acho que foi claramente na formação, na partilha, na integração, daqueles que eu acho que são os grandes agentes de mudança em prol da sustentabilidade”, rematou.