O Fundo Monetário Internacional (FMI) advertiu que as vulnerabilidades financeiras mundiais continuam “mascaradas, em parte, pelos estímulos de política”, no âmbito do Relatório de Estabilidade Financeira Mundial (REFM), que foi esta terça-feira divulgado.

“Apesar de algumas melhorias desde o Relatório de Estabilidade Financeira Mundial de 2021, as vulnerabilidades financeiras continuam a ser elevadas em vários setores, mascaradas em parte por estímulos de política”, pode ler-se no REFM esta terça-feira divulgado.

Concretamente, a divisão de estabilidade financeira do fundo refere que os decisores políticos estão atualmente confrontados com um compromisso entre “manter os apoios de curto-prazo para a economia mundial enquanto evitam consequências inesperadas e riscos de médio prazo para a estabilidade financeira mundial”.

Um período prolongado de condições de financiamento extremamente facilitadas, apesar de necessária para suster a recuperação económica, pode resultar em avaliações de ativos demasiado elevadas e pode fomentar vulnerabilidades financeiras”, alerta a instituição sediada em Washington.

O fundo dá o exemplo de alguns “sinais de preocupação”, como por exemplo o “aumento de tomada de risco financeira” e o “aumento de fragilidades nas instituições financeiras não bancárias”, que “apontam para uma deterioração nas fundações estruturais da estabilidade financeira”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Se continuarem sem ser abordadas, essas vulnerabilidades podem evoluir para problemas de legado estruturais, colocando o crescimento de médio-prazo em risco e testando a resiliência do sistema financeiro mundial”, segundo o FMI.

Ao longo do texto o FMI refere vários fatores, como por exemplo a volatilidade das taxas de juro a médio prazo, a inflação, os preços dos ativos nos mercados emergentes, a retirada gradual de uma política monetária acomodatícia, as “elevadas vulnerabilidades” na China ou o aumento do preço das casas.

“As condições monetárias ainda são largamente acomodatícias, com taxas reais profundamente negativas. Mas há um risco de que as taxas reais possam crescer significativamente nos próximos anos”, adverte o FMI.

A instituição liderada por Kristalina Georgieva adverte ainda que “uma mudança súbita na abordagem de política monetária pode resultar num apertar agudo das condições financeiras, afetando de forma adversa os fluxos de capital e exacerbando pressões em países que têm preocupações com a sustentabilidade da dívida”.

Nas empresas, “a recuperação permanece desequilibrada entre setores, países e tamanhos” das companhias, refere o relatório, com os “riscos de solvência a continuarem elevados nos setores mais atingidos pela pandemia”, como os transportes e os serviços.

“As vulnerabilidades nos fundos de investimento não mascaradas pela ‘corrida ao dinheiro’ de março de 2020 continuam, e os riscos continuam a aumentar para outras instituições não financeiras, dado que procuram taxas [atrativas] para atingir os objetivos de retorno nominal”, adverte o FMI.

Assim, as companhias de seguros “ainda se deparam com elevadas disparidades de duração entre ativos e passivos em muitas jurisdições”, com as empresas americanas e europeias a “aumentar a sua percentagem de títulos de menor qualidade”.

“No ambiente corrente de taxas de juro persistentemente baixas e ampla liquidez, o maior uso de alavancagem financeira para fomentar rendimentos pode propiciar volatilidade nos mercados financeiros”, segundo o FMI.

Já no setor bancário “os critérios para a subscrição de créditos permanecem restritivos em muitos países”, uma posição que se deverá manter, e caso haja um “abrandamento nos empréstimos dos bancos internacionais” isso pode “colocar riscos adicionais descendentes a muitas economias de mercados emergentes”.