Astrónomos da Universidade de Sydney detetaram ondas de rádio, até agora desconhecidas, vindas do centro da nossa galáxia, a Via Láctea. Pode estar em causa um novo tipo de corpo celeste, tendo em conta que o sinal de radiação registado não encaixa nos padrões já estudados e conhecidos.

Os investigadores relatam que o objeto que poderá estar por trás desta radiação “começou por ser invisível, tornou-se brilhante, perdeu o brilho e depois reapareceu”. Além disso, o brilho “varia dramaticamente” e o seu sinal “aparece e desaparece de forma aleatória”, algo que nunca tinham visto.

“A propriedade mais estranha deste sinal é que tem uma polarização muito alta. Isto significa que a sua luz oscila em apenas uma direção, mas essa direção muda com o tempo”, disse Ziteng Wang, aluno de doutoramento e primeiro autor do artigo, citado num comunicado da Universidade de Sidney, na Austrália.

Vários tipos de corpos celestes, como as estrelas, emitem ondas eletromagnéticas que podem variar consoante a sua energia, frequência e comprimento de onda. Estas variações estão representadas no espetro eletromagnético, a partir do qual se percebe que o ser humano consegue detetar visualmente apenas uma parte de toda a radiação, ou seja a “luz visível”. As ondas de rádio são ondas eletromagnéticas não visíveis que são caraterizadas por terem um grande comprimento em comparação com as restantes.

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Segundo Wang, a equipa pensou inicialmente que este objeto poderia ser um pulsar, um tipo de estrela “morta”, altamente densa, que tem um movimento de rotação muito rápido e emite radiação através dos seus polos magnéticos. Os sinais desta nova fonte, no entanto, não correspondem àqueles que se esperariam encontrar neste tipo de corpos celestes.

Ziteng Wang foi acompanhado por uma equipa internacional, que envolveu cientistas australianos, norte-americanos e europeus, e foi supervisionado por Tara Murphy, professora da Faculdade de Física da universidade australiana e no Instituto de Astronomia de Sydney.

Os astrónomos detetaram, com o radiotelescópio australiano ASKAP, seis sinais de rádio desta fonte durante nove meses, em 2020, e quando tentaram identificá-lo em luz visível, não o encontraram. Recorrendo a outro radiotelescópio, o Parkes, também não tiveram sucesso.

“Depois tentámos o MeerKAT, um rádiotelescópio mais sensível localizado na África do Sul. Como era um sinal intermitente, observámo-lo por 15 minutos durante algumas semanas, à espera de que o pudéssemos ver outra vez. Felizmente, o sinal regressou, mas reparámos que o comportamento dessa fonte era dramaticamente diferente.”

Esta observação acabou por não adiantar mais nada sobre a origem das ondas. A informação disponível é comparável com outros tipos de objetos, mas também existem diferenças, o que torna o mistério mais complexo.

Os cientistas planeiam estar atentos ao objeto, cujo nome é definido pelas suas coordenadas no espaço — ASKAP J173608.2-321635 — para tentar encontrar mais pistas do que poderá ser.

A professora Tara Murphy diz que espera resolver mais mistérios como este na próxima década, quando estiver a funcionar o radiotelescópio transcontinental Square Kilometre Array (SKA), aquele que se prevê ser o maior do mundo.