Soldados a partirem blocos de pedras com a cabeça, outros a levarem com um martelo no antebraço e ainda a deitarem-se sobre vidro. Estas são algumas das imagens insólitas que chegam da Coreia do Norte, numa exibição das tropas em que Kim Jong-un esteve presente, aplaudindo e sorrindo.

“Estes soldados, acolhidos e criados pelo nosso partido, demonstraram a todo o mundo a sua força, valentia e moral”, descreveu a apresentadora da televisão estatal KCTV Ri Chun-hee, de acordo com Agence France-Press. As artes marciais são uma das maneiras preferidas pelo regime norte-coreano para divulgar o poder do Exército.

Mas não foi só o poderio do exército da Coreia do Norte que a televisão estatal revelou. Apesar de ter sido originalmente mostrado ao mundo em outubro, foi possível ver imagens surpreendentes (e com bastante detalhe) do Hwasong-16, o maior míssil intercontinetal detido por Pyongyang.

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A televisão estatal também mostrou imagens do Hwasong-8, bem como de outros mísseis supersónicos.

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Antigo espião de Pyongyang denuncia “task force do terror”

Kim Kuk-song — nome fictício — era um antigo espião do regime norte-coreano, descrito como “os olhos, os ouvidos e o cérebro do Líder Supremo”. Por correr perigo de vida, teve de fugir de Pyongyang e agora trabalha nos serviços de inteligentes da Coreia do Sul.

Em entrevista à BBC, Kim Kuk-song denuncia a criação de uma “task force do terror”. Criada em maio de 2009, inicialmente destinava-se ao assassinato de Hwang Jang-yop, um dos principais ideólogos do regime da Coreia do Norte, mas que fugiu para Seul, algo que os regime nunca perdoou. “Estive envolvido pessoalmente nesse projeto”, recorda Kim Kuk-song.

O assassinato de Hwang Jang-yop não correu como o previsto, porque o homem conseguiu sobreviver. Dois soldados do exército norte-coreano acabaram presos por serem os alegados autores dos crimes, mas Pyongyang sempre recusou o envolvimento na morte, culpabilizando as autoridades de Seul. Agora, Kim Kuk-song garante que foi o regime de Kim Jong-un que levou a cabo a tentativa de assassinato: “Na Coreia do Norte, o terrorismo é uma ferramenta política que protege a dignidade”.

Outro assunto abordado na entrevista foi o episódio no qual um navio sul-coreano foi atingido por um torpedo em 2010 em que 46 pessoas acabariam por morrer. Pyongyang sempre rejeitou ter estado por detrás do ataque. Mas Kim Kuk-song assegura que o regime norte-coreano o responsável. “Foi tratado com orgulho, como algo de que se deve gabar”, relata.

Os negócios da droga da Coreia do Norte

Isolada do resto do mundo, o sistema financeiro da Coreia do Norte é débil. Para fazer face às dificuldades, Kim Kuk-song conta que o regime decidiu investir na produção e tráfico de drogas desde meados dos anos 80, tendo-se envolvido diretamente em contratar estrangeiros para ajudar no processo.

Na entrevista, Kim Kuk-song relata que o regime conseguia obter elevados rendimentos com a produção e tráfico de droga. Mas, denuncia o espião, o dinheiro ficava nas mãos do líder norte-coreano. “Todo o dinheiro pertence-lhe”, indica, acrescentando que, com ele, o líder “constrói casas, compra carros, compra comida, roupas e desfruta de luxos”.

Adicionalmente, o antigo espião conta que o país vendia armas a países do Médio Oriente, nomeadamente o Irão.

Kim Kuk-song conta responsabilidades que tinha

Enquanto espião do regime norte-coreano, Kim Kuk-song tinha como função desenvolver as estratégias para lidar com a Coreia do Sul — e o objetivo final era a reunificação dos dois países com Pyongyang a ser a nova capital.

“Há muitos casos em que dirigi espiões para irem para a Coreia do Sul e desempenharem missões”, relata Kim Kuk-song, acrescentando que existem muitos norte-coreanos disfarçados que têm “um papel ativo na sociedade civil” de Seul, assim como em “instituições importantes”

O espião agora a trabalhar para a Coreia do Sul relata que um dos principais objetivos do regime norte-coreano, a partir dos anos 80, passou por ser líder no campo do cibercrime e a guerra tecnológica. De acordo com Kim Kuk-song, o regime escolhia os “melhores estudantes”, formando-os durante seis anos de “educação especial”.