A maioria dos alunos de jornalismo acredita que será difícil encontrar um primeiro emprego na área e que os salários serão baixos e precários, concluiu um estudo da Universidade de Coimbra.

Cerca de dois terços dos inquiridos consideram de alguma forma improvável “encontrar um primeiro emprego no jornalismo” e uma percentagem semelhante admite que será difícil conseguir um contrato laboral estável e com um salário condizente com o estatuto e responsabilidade da profissão, concluiu um estudo realizado por João Miranda e Carlos Camponez, investigadores do Centro de Estudos Interdisciplinares (CEIS20) da Universidade de Coimbra.

Segundo uma nota de imprensa da Universidade de Coimbra, o inquérito foi realizado a 1.091 estudantes que frequentaram 38 cursos de licenciatura ou mestrado em jornalismo e comunicação social no ano letivo 2020/2021 em Portugal.

Apesar das baixas expectativas, apenas 2,9% dos alunos admitem a possibilidade de abandonar o curso para ingressar noutra área de formação e apenas cerca de 10% referem não pretender trabalhar em jornalismo, com alguns a justificarem a decisão com as condições laborais que marcam a profissão, notam os investigadores.

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“Os estudantes entram com o objetivo de serem jornalistas e motivados para esse futuro profissional”, disse à agência Lusa João Miranda, realçando, porém, que há “um paradoxo” face às baixas expectativas que têm para o futuro.

O estudo analisa também as tendências no consumo de informação noticiosa dos alunos de jornalismo, demonstrando uma mudança no tipo de meios usados pelos estudantes para acompanhar a atualidade noticiosa.

Se quase a totalidade dos estudantes recorre pelo menos uma vez por semana a sites de notícias de âmbito nacional e a noticiários televisivos (quase 100%), há também uma forte presença de plataformas e redes sociais, como o Instagram (90%), Youtube (88,9%), o WhatsApp (81,7%), o Facebook (74%), o Twitter (73,2%) ou podcasts (70,3%), todos acima do recurso pelo menos uma vez por semana a jornais impressos de âmbito nacional (40,1%) ou revistas generalistas (29,8%), referem os investigadores no estudo a que a Lusa teve acesso.

As mudanças são ainda mais vincadas quanto aos meios que utilizam cinco ou mais vezes por semana para acompanhar a atualidade noticiosa, em que o Instagram passa a liderar (81,5%), seguido de sites de notícias nacionais (79,9%), noticiários televisivos (76,1%) e WhatsApp (72,4%).

Para João Miranda, o consumo de notícias é marcado por “alguma heterogeneidade”, com as plataformas digitais a terem “um peso importante” nesse contacto com a informação.

“Estes dados tendem a acompanhar os resultados de outros estudos, mostrando que há um consumo muito centrado nos meios ‘online’ e também na televisão, mas também de um crescente contacto com as plataformas, o que levanta vários problemas. No Facebook, no WhatsApp ou no Instagram, [o consumo de notícias] é apenas mais um dos usos que fazem, entre outros. As notícias que lhes chegam dependem também de outros fatores”, notou.

O investigador realça ainda que “não deixa de ser estranha” a forte presença do Instagram quando se fala de acompanhar a atualidade mediática, face à “natureza da rede”, em que é privilegiada “uma dimensão visual em detrimento do texto”.

O estudo constata também que uma minoria dos inquiridos (38,5%) refere pagar por informação numa semana típica e a maioria dos que paga gasta até cinco euros por semana.

Apesar disso, mais de metade dos alunos dizem que os seus familiares têm por hábito pagar por informação.

Na nota de imprensa da Universidade de Coimbra, os dois investigadores realçam que os resultados contribuem para compreender “os contextos e os desafios da própria formação em jornalismo”.

Os resultados deste estudo estão apresentados no livro “Estudantes de Comunicação Social em Portugal — Expectativas e perspetivas sobre jornalismo”, disponível em formato online.