Portugal é atualmente o país da União Europeia (UE), entre os 18 que têm armazenamento de gás, com reservas mais baixas, que estão em cerca de metade, segundo a Rede Europeia de Operadores de Sistemas de Transmissão de Gás (ENTSOG).

Além disso, segundo o mesmo relatório, Portugal faz parte do grupo de países “em risco”, na União Europeia, para eventuais perturbações das importações do gás da Argélia neste inverno, em altura de crise energética, não estando ainda assim exposto à redução do fornecimento.

As possíveis “perturbações das importações da Argélia através de gasodutos”, afetarão o “grupo de risco” que “é formado pela Áustria, Croácia, França, Grécia, Itália, Malta, Portugal, Eslovénia e Espanha”.

Num documento com perspetivas de abastecimento para este inverno, datado do início de outubro e ao qual a agência Lusa teve esta quinta-feira acesso, a ENTSOG indica que os níveis de armazenamento de gás em Portugal estão em 49,82%, a percentagem mais baixa na UE.

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De acordo com os dados da ENTSOG, o país tem agora 1,78 terawatt-hora (TWh) de energia armazenada, de um total de 3,57 TWh de capacidade.

A seguir a Portugal, os níveis mais baixos de armazenamento de gás registam-se na Áustria (53,25%), na Holanda (58,39%) e na Alemanha (67,96%), abaixo da média europeia de cerca de 75%. Em termos de volumes absolutos de armazenamento de gás, os maiores estão localizados em Itália, Alemanha, França e Holanda.

No início desde mês, a capacidade total de armazenamento subterrâneo de gás na UE de era de 831 TWh, valor que compara com 1.053 TWh no mês período de 2020.

“Em comparação com os anos anteriores, a Alemanha, os Holanda e a Áustria têm um baixo nível de armazenamento”, aponta a ENTSOG, indicando que estes três países, que representam 42% da capacidade acumulada do armazenamento europeu (470 TWh), registaram “um reforço limitado durante o verão”.

Ainda assim, “a infraestrutura de gás da UE tem estado totalmente operacional e em funcionamento”, salvaguarda esta rede europeia.

O organismo ressalva ainda que estes níveis poderão aumentar no decorrer do mês de outubro, uma vez que a época de reforço do armazenamento geralmente continua em alguns países até 1 de novembro.

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A conclusão surge numa altura de escalada de preços no mercado do gás devido à maior dependência das importações e à maior procura, cenário que ameaça exacerbar a pobreza energética e causar dificuldades no pagamento das contas de aquecimento neste inverno.

Problemas na Argélia podem afetar fornecimento de gás

A Argélia, atualmente num clima de tensão com Marrocos que já levou ao corte de relações diplomáticas e que pode afetar o fornecimento de gás a Espanha, é um dos principais fornecedores de gás para a Europa, ainda assim superada pela Rússia, que tem a maior fatia, e pela Noruega.

Perante um cenário de “frio de duas semanas combinado com a rutura argelina, a infraestrutura de gás [europeia] permite uma cooperação eficiente entre os países e nenhum país está exposto a uma redução do fornecimento”, assegura a ENTSOG no documento.

O mesmo aconteceria num “dia de pico combinado com a rutura das importações de gasodutos argelinos”, já que “as infraestruturas de gás, incluindo as capacidades dos terminais de GNL em Espanha e Itália e o gasoduto transadriático, permitem uma cooperação eficiente entre os países”.

A conclusão surge numa altura de escalada de preços no mercado do gás devido à maior dependência das importações e à maior procura, cenário que ameaça exacerbar a pobreza energética e causar dificuldades no pagamento das contas de aquecimento neste inverno.

A ENTSOG estima neste documento que, perante um inverno mais frio que implica maior procura, “as necessidades de importação para a UE [de gás] poderiam ser 5% a 10% superiores às observadas nos últimos anos”.

Ainda assim, esta rede garante que “o sistema europeu de gás oferece flexibilidade suficiente para garantir a segurança do fornecimento de gás na Europa, desde que as importações possam ser mantidas a níveis semelhantes aos dos últimos anos”.

Os níveis de armazenamento na UE estão abaixo da média dos últimos 10 anos

Os atuais níveis de armazenamento de gás na UE estão ligeiramente acima dos 75%, percentagem que ainda assim é mais baixa do que a média dos últimos 10 anos, que ronda os 90%.

Nem todos os Estados-membros têm instalações de armazenamento de gás e os que têm utilizam-nas de forma diferente.

Na quarta-feira, numa comunicação sobre os preços da energia, a Comissão Europeia instou os Estados-membros da UE a analisarem “potenciais benefícios” de uma aquisição conjunta voluntária de reservas de gás, em altura de crise energética.

No documento, Bruxelas indicou que irá “explorar os possíveis benefícios da aquisição conjunta de reservas de gás por entidades regulamentadas ou autoridades nacionais para permitir o agrupamento de forças e a criação de reservas estratégicas”.

Além desta ação, a instituição quer “adotar em breve um ato delegado que crie novos grupos de risco de gás regionais transfronteiriços”, de acordo com a comunicação.

Em dezembro próximo, o executivo comunitário irá apresentar um pacote de iniciativas sobre o setor energético, admitindo intervir relativamente à aquisição e ao armazenamento de gás, de forma a reforçar as reservas da UE.