O exílio político de milhares de portugueses em França durante a ditadura vai ser lembrado no fim de semana através de uma exposição, um passeio e um colóquio na capital francesa, para evitar que estes exílios se repitam.

“Trabalhamos estes assuntos para abrir portas a uma reflexão não só sobre o que aconteceu em Portugal, mas para refletir sobre o que acontece hoje. O exílio continua a existir, todos os dias morrem pessoas no Mediterrâneo e não só. Temos de chamar a atenção das novas gerações e participar numa mudança na sociedade”, disse Ilda Nunes, presidente da associação portuguesa em França Memória Viva, em declarações à Lusa.

A Memória Viva, que recolhe todas as memórias por escrito, orais, documentos, jornais ou livros ligados à emigração portuguesa em França associou-se à Associação de Exilados Políticos Portugueses, à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, à Casa da Esquina, ao Centro em Rede de Investigação em Antropologia, ao Centro Nacional de Investigação Científica e Universidade de Copenhaga num projeto europeu sobre os exilados políticos.

Juntando Portugal, França e Dinamarca, o projeto ECOS vai organizar a partir de sábado um série de eventos em Paris retraçando os passos dos exilados portugueses na capital francesa e pensado os exílios que existem atualmente.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“A ideia não é falar só do exílio de há 50 anos, mas construir um legado desses processos e tentar refletir com os jovens sobre a história da Europa e regimes políticos, a construção de cidadania e processos de solidariedade“, indicou Ilda Nunes.

A primeira atividade acontece no sábado, com a inauguração da exposição “Contrariar o Silêncio” que vai ficar patente no consulado-geral de Portugal em Paris até 22 de outubro. No domingo, o ECOS organiza um passeio com antigos exilados políticos pelas ruas do 13.º bairro de Paris, onde muitos portugueses chegaram nos anos de 1960 e 70.

Na segunda-feira, decorre na Câmara Municipal de Paris uma conferência à volta do tema do exílio, em que se vai falar neste projeto a nível escolar, mas também debater o papel da memória nos exílios.

A ideia não é ter espólios quietinhos, a ideia é precisamente dar a possibilidade a qualquer pessoa de os consultar, mas especialmente a investigadores que lá possam encontrar temas de uma, duas ou três teses e continuarem o trabalho que nós começámos”, explicou Ilda Nunes.

Esta é também uma possibilidade para dar a conhecer a história do exílio de portugueses em França e o papel da emigração na mudança política em Portugal.

“Quanto mais se abrir oportunidades de divulgar a história de Portugal e o que aconteceu durante 48 anos, melhor é. Mas a Memória Viva não fica só a trabalhar nos intelectuais e políticos que tiveram de fugir para França. Porque há outras pessoas que vieram também e embora não se considere que essa emigração seja política e mais económica, no fundo essa emigração teve causas políticas“, concluiu a dirigente associativa.

A participação nos eventos em Paris está sujeita a inscrição prévia e o ‘site’ do projeto vai continuar a disponibilizar o espólio e os trabalhos dos investigadores após os eventos na capital francesa.