“Estou me Guardando para Quando o Carnaval Chegar”

Quando era pequeno, o realizador brasileiro Marcelo Gomes costumava acompanhar o pai, fiscal do Governo, nas suas viagens de trabalho. Muitos anos mais tarde, regressou à cidade de Toritama, em Pernambuco, paragem habitual do pai nas suas rondas, para a encontrar completamente mudada, transformada no segundo maior centro de fabrico de “blue jeans” (o “ouro azul”) do Brasil: mais de 20 milhões de pares produzidos por ano. Só nos dias do Carnaval o trabalho pára por completo e Toritama fica vazia, porque a população vai em massa celebrar a quadra para as praias da costa. “Estou me Guardando para Quando o Carnaval Chegar” é um curiosíssimo documentário sobre o espírito empreendedor e a capacidade de trabalho de toda uma população, e a força do capitalismo local, já que estamos a falar de dezenas e dezenas de micro-empresas, muitas delas familiares,  e que também está cheio de saborosos pormenores humanos.  Marcelo Gomes leva-nos numa viagem por um pedaço do Brasil que o próprio Brasil  desconhece.

“Sombra”

Depois de “Carga” (2018), sobre o tráfico de mulheres, Bruno Gascon foi inspirar-se, para rodar este “Sombra”, no caso real do desaparecimento nunca resolvido do pequeno Rui Pedro, em 1998. Ana Moreira interpreta o papel de mulher que vive na província e cujo filho é raptado, mas que nunca desiste de o encontrar ao longo dos anos, quando até a polícia arquivou o caso. O potencial do tema é desperdiçado numa história repleta de diálogos canhestros (ver a cena do interrogatório da prostituta pelos agentes da Judiciária) e que nunca levanta fervura dramática, servindo um filme falho em ímpeto narrativo, profundidade emocional e capacidade para nos fazer empatizar com as personagens e compartilhar as suas angústias e estados de espírito. Sobretudo a de Ana Moreira, que se limita a andar de um lado para o outro com ar devastado. Do princípio ao fim, “Sombra” está mergulhado numa inação e numa atonia que não consegue sacudir.

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“Venom: Tempo de Carnificina”

Era inevitável que após o sucesso comercial do filme original, “Venom” (2018), mais uma produção da Marvel, aparecesse uma continuação das aventuras  do jornalista bronco Eddie Brock (Tom Hardy) e de Venom, o alienígena monstruoso que vive em simbiose com ele e se alimenta de cérebros e de chocolate. E aqui está “Venom: Tempo de Carnificina”, realizado por Andy Serkis, em que o humano e o seu inquilino “alien” vão enfrentar  Cletus Kasady (Woody Harrelson), um “serial killer” que por acidente fica infetado com o ADN de Eddie e desenvolve o seu próprio residente alienígena, o Carnificina do título. E ao pé dele, Venom parece o ursinho Paddington. “Venom: Tempo de Carnificina” foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.