Como se não bastasse aos “comics” terem colonizado Hollywood e invadido o cinema com os seus super-heróis, temos também que sofrer os anti-heróis, que ainda por cima têm a mania que são muito espirituosos e cómicos. Além do engraçadinho Deadpool, há também Venom, na realidade dois anti-heróis num só, o jornalista bronco Eddie Brock (Tom Hardy) e o dito Venom, o alienígena monstruoso de voz cava que vive em simbiose com ele e se alimenta de cérebros e chocolate. Que saudades do tempo em que, no cinema americano, uma parceria insólita significava Walter Matthau e Jack Lemmon a partilharem um apartamento e a embirrarem por tudo e por nada.

Era mais certo que a morte que após o sucesso comercial do filme original, “Venom” (2018), aparecesse uma continuação. Eis assim “Venom: Tempo de Carnificina”, realizado por Andy Serkis, onde Eddie e Venom continuam às turras um com o outro até um deles ficar farto, declarar a independência e sair de casa. O novo vilão é Cletus Kasady (Woody Harrelson a fazer caretas e esgares reciclados da sua personagem de “Assassinos Natos”), um “serial killer” que por acidente fica infetado com o ADN de Eddie e desenvolve o seu próprio inquilino alienígena, o Carnificina do título. Ao pé dele, Venom parece o ursinho Paddington.

[Veja o “trailer” de “Venom: Tempo de Carnificina”:]

Tal como o primeiro, “Venom: Tempo de Carnificina” é uma estúpida, indigesta e lúgubre mistela de filme de monstros, comédia negra sanguinolenta e ultraviolência gerada por efeitos digitais (e dos manhosos). Serkis realiza no pior estilo feio, bruto e sujo, as sequências de ação são tão espalhafatosas como monótonas — monstros a atirar pessoas contra paredes ou a rebentar com carros e helicópteros da polícia –, e a batalha final entre Venom e Carnificina, uma verdadeira orgia de tentáculos e dentuças, é bocejante (para quem ainda não adormeceu até aí) em vez de empolgante. Os combates entre Godzilla e Rodan nos velhos filmes de monstros japoneses eram mil vezes melhores, e nesse tempo nem sequer havia efeitos computacionais.

No final de “Venom: Tempo de Carnificina”, fica – infelizmente! – a promessa de uma Parte III, que poderá de alguma forma envolver o Homem-Aranha (coitado dele, e de nós). E, mais uma vez, a certeza de que esta “franchise” muito chunga da Marvel é menos dotada de massa cinzenta do que as duas galinhas-mascote de Venom.   

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