Colin Kaepernick jogou pela última vez na NFL (liga norte-americana de futebol americano) a 1 de janeiro de 2017, numa derrota dos seus San Francisco 49ers frente aos Seattle Seahawks. Não foram muitas as vitórias da equipa californiana nessa temporada, que ficou principalmente marcada pelo facto de Colin, ainda em agosto de 2016, ter começado a ajoelhar-se durante o hino nacional dos EUA antes de cada partida. E se hoje em dia, do Euro 2020 à Liga dos Campeões, é normal ver-se os jogadores a ajoelharam-se contra o racismo ou a opressão, foi praticamente no quarterback agora com 33 anos que tudo começou.

E nem começou com o joelho no chão. Kaepernick, que conseguiu chegar a um Super Bowl em 2013 com a equipa de São Francisco, mas perdendo contra os Baltimore Ravens, iniciou o seu protesto, contra a violência policial sofrida pelos afro-americanos e outras opressões, sentado no banco de suplentes. Tocava o hino e ele não se levantava. Logo aí, no verão de há cinco anos, a situação gerou muita, muita polémica. Após conversa com um ex-jogador e ex-membro das forças armadas norte-americanas, o não se levantar tornou-se em ajoelhar e, a partir daí, bastou ligar a televisão nos últimos anos para ver como este símbolo se tornou global. Símbolo por muitos adotado mas, por outros, como por exemplo Donald Trump, criticado.

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Depois de 1 de janeiro de 2017, nunca mais Colin jogou na NFL, uma questão que ainda é uma ferida aberta, não só no desporto, como na sociedade dos EUA. A maioria das portas foram fechadas e mesmo quem deixou uma ou outra entreaberta nunca foi muito convicto.

O que é certo é que Colin Kaepernick nunca mais jogou na principal liga do seu amado desporto.

O jogador, visto que nunca se retirou oficialmente da competição para a qual ainda treina com afinco, deu uma entrevista à revista Ebony, quando se prepara para sair na Netflix a série biopic “Colin in Black and White”, sobre a sua infância e adolescência, a 29 de outubro deste ano.

“Ainda acordo às 5h00 para treinar cinco, seis vezes por semana e ter a certeza de que estou preparado para levar uma equipa ao Super Bowl novamente. Nunca vou largar esta ideia, independentemente das ações das 32 equipas da liga e dos seus parceiros em negarem-me emprego. Da mesma maneira que fui persistente no secundário, serei persistente agora”, garantiu na entrevista, não deixando de repetir a ideia de que existe uma espécie de conluio, nem que seja através do medo de o contratar, entre a NFL, as equipas e os patrocinadores, algo que tem sido muito referido e debatido nos últimos anos.

Para além do treino e de uma série na Netflix, Kaepernick tem estado ainda envolvido em vários projetos fora do tal campo que diz ser-lhe negado. Uma dessas iniciativas é o Know Your Rights Camp, uma campanha destinada aos mais jovens para “avançar para a libertação e bem-estar da comunidade negra através da educação, empowerment, mobilização em massa e a criação de novos sistemas que elevem uma nova geração de líderes para a mudança”. Mas Colin tem ainda mais duas plataformas, a Ra Vision Media e a Kaepernick Publishing. A primeira “pretende demonstrar o trabalho de realizadores, produtores, criadores e storytellers negros”, com a segunda a estar já à espera do primeiro livro que vai lançar enquanto editora, que também deverá sair ainda este outubro: “Abolition for the People: The Movement for a Future without Policing & Prisons”.

“Vão ter de continuar a negar-me e a fazê-lo publicamente. E vão expor-se por isso, mas nunca será porque não estou pronto ou preparado. E, nesse processo, também não vou deixar que enterrem o meu futuro. Vou continuar o meu trabalho, seja no lado de atuar ou produzir, ou no ‘Know Your Rights Camp’, quero ter a certeza que estamos a ter um impacto. Acho que é essa a beleza de nós enquanto coletivo: não somos unidimensionais”, frisou.

Sobre a série “Colin in Black and White”, o atleta, que foi adotado e criado por pais brancos, diz que a mensagem será diferente para “as diferentes audiências”. “Se olharmos para negros, especialmente os jovens, a mensagem é manterem-se fiéis a eles mesmos, acreditarem em si, terem confiança na sua identidade e não deixarem ninguém roubar-lhes isso”, explicou, acrescentando que a série falará ainda “de racismo, de pressões, das microagressões e como essas coisas aparecem”.

A adoção, o protesto no hino, o desemprego: a vida de Colin Kaepernick, “Cidadão do Ano” da GQ