Centenas de cabo-verdianos acorreram estes domingo à Embaixada de Cabo Verde em Paris para votar nas eleições presidenciais, tendo como principais reivindicações estabilidade, segurança, saúde e o fim das desigualdades no seu país de origem.

“A estabilidade é fundamental para Cabo Verde e esta eleição vai decidir o destino do país para os próximos 10 a 15 anos”, disse António, cabo-verdiano que vive há cinco anos em França, em declarações à agência Lusa.

Tal como outros conterrâneos, António vive nos arredores de Paris e deslocou-se hoje à capital para votar nas eleições presidenciais cabo-verdianas, um escrutínio disputado por sete candidatos. Quem veio votar neste domingo tem preocupações específicas, apesar de viver longe do seu país de origem.

“Quero que os candidatos façam realmente o trabalho que há para fazer. Desde logo a segurança, mas também a saúde e depois a criação de emprego. Há uma desigualdade social enorme que não deixa viver bem as pessoas”, referiu David, instalado em França há 33 anos.

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Na Embaixada de Cabo Verde em Paris foram instaladas 10 mesas de voto e, no total, há 22 mesas de voto em toda a França, incluindo Amiens, Cannes, Lyon, Marselha, Nice ou Roubaix. Lá dentro, segundo testemunhos recolhidos pela agência Lusa, a eleição decorria de forma “normal” e “com alegria”.

Fonte oficial da Embaixada classificou a participação como “razoável”, embora a afluência esteja “abaixo” das eleições legislativas de abril e a taxa de abstenção entre os cerca de 9 mil inscritos em Paris possa ser “considerável”.

Para Arcanja, que vive nos arredores de Paris desde 1992, houve falta de informação nesta campanha presidencial, fazendo com que muitos cabo-verdianos que vivem em França tenham algum receio em votar.

“Votamos porque é o dever de um cidadão, temos de contribuir para o melhor da nossa terra. Eu nem sei bem as expectativas, porque aqui em França não fomos bem informados. Falta informação de campanha, embora se compreenda, por causa da covid-19. Votamos com um pé atrás”, explicou.

O próprio papel do Presidente é questionado por alguns cabo-verdianos, que, acostumados ao sistema francês, têm dificuldade em compreender que não seja o chefe de Estado a tomar as principais decisões do país.

“O Presidente não tem muito poder em países como Cabo Verde ou Portugal. Em França o Presidente bate na mesa, diz as coisas e já está. E, em Cabo Verde, parece que os presidentes estão lá para assinar os documentos no fim e não muito mais do que isso”, referiu David.

Na lista de reivindicações da diáspora de França estão ainda os transportes para Cabo Verde, assim como a mobilidade entre ilhas, que tem prejudicado o regresso ao arquipélago mesmo em termos de acalmia da pandemia de covid-19.

“A diáspora de Cabo Verde espalhada no mundo sente isso na pele. Tínhamos a sensação de que os emigrantes, sobretudo de Santiago, não voltariam a passar a noite no banco do aeroporto na ilha do Sal, mas é o que voltou a acontecer e nem sequer conseguimos passar a noite porque não há mesmo aviões. Visitar a terra natal agora é um problema bastante grave”, lamentou António.

A estas eleições presidenciais apresentam-se sete candidatos – um recorde histórico – e, caso nenhum obtenha a maioria absoluta, os dois mais votados disputam uma segunda volta, já agendada para 31 de outubro.

Em Paris, as urnas abriram às 08:00 e encerram às 18:00, já em Cabo Verde as mesas de voto abriram depois das 07:00 locais (10:00 em Paris), algumas com atraso devido a questões logísticas, constatou a Lusa na cidade de Praia. A admissão de eleitores pelas assembleias de voto decorre até às 18:00 (21:00 em Paris).

São cerca de 398 mil os eleitores cabo-verdianos chamados a decidir estas presidenciais, dos quais 56 mil na diáspora.