“Ele está aí? Não o vi”. Rui Rio respondia assim ao facto de não ter cumprimentado Paulo Rangel, que esteve sentado a poucos metros do líder do PSD, para logo complementar: “Se estiver aí, cumprimento. Acha que eu sou mal educado?” A cerimónia era de tomada de posse de Carlos Moedas, mas a Praça do Município também foi arena da disputa interna do PSD, que foi um assunto incontornável. A hesitação de Rio, o recado de Balsemão, a bicada de Rangel e o empurrão de Montenegro mostraram o desassossego em que está o partido. Passos e Cavaco, no estilo muito próprio de ambos, marcaram presença. Mas em silêncio.
A maior novidade foi a declaração do fundador Francisco Pinto Balsemão que, em vez de optar por um confortável “não comento”, desalinhou da tese de Rio de que o partido devia estar parado em tempos de iminente crise política. Sobre a disputa interna, o antigo primeiro-ministro mostrou-se satisfeito pela agitação trazida pelas eleições: “O meu partido está sempre em mutação. Não está sossegado, mas isso também é bom. Partidos que adormecem não duram muito tempo.” Rio defendeu o contrário em Conselho Nacional, onde queria adiar as internas devido ao risco de eleições antecipadas.
Depois a disputa estava em cada palavra de resposta sobre as internas. Paulo Rangel não quis comentar a neutralidade anunciada de Carlos Moedas nas eleições do PSD, mas lembrou que é “um grande amigo” e que é um “grande adepto dos novos tempos”. Ora, novos tempos significa renovação, que significa trocar de líder.
Mas Paulo Rangel mandaria também um indireta mais direta a Rio: “Creio que fui dos únicos que acreditei mesmo até ao fim naquela quinta-feira de grande comício a que as televisões faltaram na altura. Ali disse a muita gente que podíamos ganhar e ganhámos”. O eurodeputado queria sugerir que, ao contrário das televisões e de Rui Rio (que foi nesse dia para os Açores e não participou no comício final de Moedas nem na descida do Chiado), Rangel foi um dos principais oradores desse mesmo comício.
Rio acabaria por responder a Paulo Rangel e aos seus apoiantes, que dizem que o presidente do PSD não teve grande influência no resultado em Lisboa. Já depois de Carlos Moedas discursar, o presidente do PSD disse que um dos seus grandes objetivos era vencer Lisboa e chamou a si parte dos louros da vitória da capital: “Tenho consciência, alguns não têm, que dei um contributo importante para que isto possa acontecer”. O “alguns não têm” era para Rangel e rangelistas.
A hesitação de Rio: “Não vai demorar muito”
Rio não perde uma oportunidade para lembrar aos jornalistas que é o presidente em funções. Questionado sobre se está pronto para ser protagonista na mudança no país, Rui Rio não respondeu sobre a sua recandidatura (“percebo onde quero chegar”, diz), mas reafirma que é ele o líder social-democrata: “Aquele que é o presidente do PSD tem de estar sempre [preparado ser protagonista da mudança no país], como é evidente, senão não se propõe ser presidente do PSD, como me propus-me ser e, portanto, estou”.
Além disso, como tinha dito na noite do Conselho Nacional, insistiu que em breve todos vão saber se é ou não candidato: “Não vai demorar muito a saberem isso”. Quanto à neutralidade de Carlos Moedas (que o referiu no discurso por via de uma menção especial, embora seja mais próximo de Rangel) nas diretas, Rio optou por não comentar: “Parte interna, não. Hoje é a câmara de Lisboa, é uma festa para o PSD”.
Carlos Moedas voltaria a fazer um especial elogio a Cavaco Silva (a que chamou, por cortesia, de “Presidente”), particularmente relevante depois de ter igualmente elogiado o artigo de opinião em que o antigo primeiro-ministro criticou o estilo de oposição de Rui Rio.
Já no fim da sessão, no entanto, o presidente do PSD admitiria a recandidatura ocupa neste momento os seus pensamentos, mais do que a “festa” em que acabara de participar: “Evidente que estou a pensar mais na questão interna do partido do que na Câmara de Lisboa.”
Mais lateral na disputa, mas ainda assim acercado de jornalistas sobre o assunto, Luís Montenegro considerou que Lisboa pode ser “uma demonstração de como o PSD podem intervir na sociedade e de que a partir da câmara de Lisboa como nós do PSD podemos intervir na sociedade, podemos transformar a sociedade e oferecer melhor qualidade de vida aos nossos concidadãos”.
Para Montenegro esta é a “grande oportunidade” que o PSD tem para “mostrar ao país todo o nosso potencial de intervenção cívica e política”. Isto com o objetivo de “darmos ao país aquilo que não tem hoje: uma alternativa de Governo que possa transformar Portugal”. Mais uma vez, o antigo líder parlamentar rema para o mesmo lado de Rangel, uma vez que admite que aproveita para dizer que atualmente não há uma alternativa ao executivo de António Costa.