As agências humanitárias que estão a ajudar população afetada por ataques armados no norte de Moçambique receberam cerca de metade do valor que pediram para acudir às necessidades, anunciou esta quarta-feira o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).

“Dos 254 milhões de dólares (218 milhões de euros) requisitados, apenas 55% foi recebido, criando uma lacuna de 114 milhões de dólares (98 milhões de euros)”, lê-se num comunicado a propósito do Dia Mundial da Alimentação, celebrado no sábado.

A situação tem obrigado outras agências, como o Programa Alimentar Mundial (PAM) a cortar na ajuda alimentar distribuída por forma a ter quantidades em armazém para mais tempo.

“A insegurança alimentar continua a assolar pessoas em todo o mundo, incluindo milhões, somente em Moçambique”, numa situação agravada por “conflitos, choques económicos e climáticos, capacidades limitadas dos países em desenvolvimento e a pandemia de Covid-19”.

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Para o ACNUR, “é necessária uma ação urgente para garantir que as necessidades básicas de alimentação e nutrição das pessoas forçadas a fugir sejam atendidas“.

A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

Apoio dos EUA a Moçambique está focado na formação

O conflito já provocou mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 817 mil deslocados, segundo as autoridades moçambicanas.

Desde julho, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) permitiu aumentar a segurança, recuperando várias zonas onde havia presença de rebeldes, nomeadamente a vila de Mocímboa da Praia, que estava ocupada desde agosto de 2020.

Além dos deslocados provocados pela situação no norte, Moçambique tem 28.597 refugiados e requerentes de asilo, com 9.500 no assentamento de Maratane, em Nampula.

O governo moçambicano tem dado um “apoio fundamental”, diz o ACNUR.

Além de outras ajudas, as autoridades disponibilizaram em 2019 um total de 2.000 hectares “para a prática de atividades [agrícolas e de pecuária] de subsistência em Maratane”, referiu Samuel Chakwera, representante do ACNUR em Moçambique.

O ACNUR considera que inserir deslocados “em atividades de agricultura e pecuária é uma das formas mais sustentáveis de fazer com que as mesmas alcancem a autossuficiência”.