Uma associação feminista colocou uma ação no tribunal de trabalho de Paris contra a produtora do “Miss França”, por violação do direito laboral das mulheres que participam no concurso de beleza. A diretora da organização do programa diz que elas participam “por escolha própria”, embora admita que algumas regras são “obsoletas”.

Num comunicado publicado na sua página oficial da internet, a Osez Le Féminisme (ouse o feminismo, em português) acusa a Endemol Production de explorar as mulheres que fazem parte do espetáculo. A acusação é partilhada por três mulheres que estiveram no programa, mas que não se identificaram.

“O nosso objetivo é que a produtora enfrente as suas responsabilidades e corrija um regulamento profundamente sexista e retrógrado. E que respeite o direito laboral”, porque hoje em dia “as candidatas são exploradas, a sociedade retira enormes benefícios, mas não reconhece a relação laboral”, diz Alyssa Ahrabare, a porta-voz da associação, ao El País.

No comunicado, o grupo considera que o “Miss França” é um espetáculo “discriminatório e lucrativo, que gera milhões de euros em receita”, e pede que a Endemol elimine as “cláusulas sexistas” dos regulamentos, que pague às candidatas e que não as discrimine.

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O regulamento do concurso exige que as participantes tenham 1,70 metros de altura “sem saltos altos”, não possuam tatuagens ou piercings, “não estejam casadas” ou tenham companheiros, não tenham filhos e que não tenham participado em sessões fotográficas ou outros atos “contrários aos bons costumes (…) baseados principalmente em valores éticos como a elegância”.

Alexia Laroche-Joubert, presidente da sociedade Miss França, impacientou-se. Em declarações à rádio France Info, mostrou-se “saturada” das acusações das “mulheres jovens que participaram no programa por vontade própria” àquilo que considera ser um “ascensor social”.

E para os que qualificam as regras de arcaicas, Laroche-Joubert teve uma resposta: “Creio que é totalmente arcaico não considerar que as mulheres podem decidir o que fazer com a sua vida, ainda por cima quando vemos aquilo em que as misses de França se tornam: diretoras de empresas, atrizes, influencers. São mulheres independentes que ganham a vida e que se assumem”, afirmou à emissora francesa.

No entanto, diz que “Miss França”, cuja final será a 11 de dezembro, é um concurso “feminista”, embora reconheça que algumas das regras são “obsoletas”, como a obrigatoriedade de não terem filhos ou serem solteiras.

E esse parece ser o único ponto em que concorda com a Osez Le Féminisme. Esta pretende que os juízes aceitem a premissa de que o “Miss França” não é um concurso mas sim um espetáculo, cujas participantes fazem “uma prestação de trabalho”. Assim sendo, segundo a lei, não podem ser discriminadas pela sua “origem, sexo, situação familiar ou aparência física”.

A mesma associação lembra ainda que os candidatos ao programa “Mister França” foram sujeitos a um contrato de trabalho, por ordem do  Supremo Tribunal francês, em 2013. Assim sendo, a Osez Le Féminisme considera que não há razão para que o “Miss França” não esteja sujeito às mesmas regras.