A região etíope de Tigray foi esta quarta-feira alvo de novos ataques aéreos, ferindo várias pessoas, numa operação que tinha como alvo, segundo o executivo de Adis Abeba, instalações que estavam a ser usadas para o fabrico e manutenção de armas.

“De facto, esta quarta-feira houve ataques aéreos em Mekele (capital da região de Tigray)”, disse o porta-voz do Governo etíope, Legesse Tulu, à agência Associated Press (AP).

De acordo com Tulu, os ataques tinham como alvo as instalações da empresa Mesfin Industrial Engineering, que estariam a ser utilizadas pelas forças rebeldes de Tigray, e não tinham “qualquer intenção de prejudicar os civis”.

À AP, o antigo diretor do principal hospital de Tigray, Hayelom Kebede, informou que pelo menos 14 pessoas ficaram feridas na capital, estando três em estado crítico.

Poucas horas depois, um outro ataque aéreo atingiu Agbe, entre as comunidades de Hagere Selam e Tembien, acrescentou Legesse Tulu, que descreveu o local como um “centro de treino militar e depósito de artilharia pesada“. Um porta-voz de Tigray negou à agência noticiosa norte-americana que este estivesse relacionado com armas, comparando-o a uma garagem “com muitos pneus velhos”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Os ataques ocorreram dois dias depois de a Força Aérea ter confirmado ataques aéreos em Mekele, que uma testemunha responsabiliza pela morte de três crianças.

Estes ataques estão a provocar um pânico renovado na cidade sitiada, com médicos e funcionários a relatarem escassez de medicamentos e de outros bens essenciais.

O primeiro ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, Prémio Nobel da Paz em 2019, lançou uma intervenção militar em 4 de novembro para derrubar a Frente de Libertação do Povo de Tigray (TPLF, na sigla em inglês), o partido eleito e no poder no estado.

O Exército federal etíope foi apoiado por forças da Eritreia. Depois de vários dias, Abiy Ahmed declarou vitória em 28 de novembro, com a captura da capital regional, Mekele, frente à TPLF, partido que controlou a Etiópia durante quase 30 anos.

Em 28 de junho, Adis Abeba anunciou um cessar-fogo unilateral, aceite, em princípio, pelas forças de Tigray. No entanto, os combates continuaram e as forças eritreias são acusadas de conduzirem vários massacres e crimes sexuais.

As organizações de ajuda humanitária queixam-se que, apesar do cessar-fogo, o acesso continua limitado, sendo constrangido pela insegurança e por bloqueios administrativos.

Em 01 de junho, o Programa Alimentar Mundial advertiu que um total de 5,2 milhões de pessoas, mais de 90% da população de Tigray, necessita de assistência alimentar de forma urgente devido ao conflito.

De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), mais de 100.000 crianças poderão sofrer de desnutrição aguda potencialmente mortal durante os próximos 12 meses, 10 vezes a média anual.