Os olhos de Giannis Antetokounmpo contavam toda uma história. O grego de 26 anos, que em 2012 vendia relógios, óculos escuros, brinquedos e jogos de vídeo nas ruas que ficavam perto da Acrópole enquanto os pais controlavam o eventual aparecimento da polícia para que não fossem pedidos os papéis de residência (o que levaria à deportação para Lagos, de onde chegaram em 1991), tem hoje uma vida folgada e com um dos maiores salários da NBA mas parecia quase um miúdo a olhar para o anel de campeão que recebeu na antecâmara do arranque da nova temporada. Olhou, sorriu, cumprimentou tudo e todos, ficou a olhar quase de lágrimas nos olhos para o descerrar do cartaz de consagração dos Bucks no teto. De sonho.

A hora de Antetokounmpo, o grego que vendia relógios nas ruas de Atenas há cinco anos

Aquela reação com tanto de espontânea como de inocente mostrava bem a gratidão que o grego tem pela equipa e pela própria cidade de Milwaukee, que viu nele um fenómeno mesmo tendo apenas a 15.ª escolha do draft de 2013 onde quase meia NBA passou ao lado do futuro All-Star em detrimento de nomes como Anthony Bennett, Victor Oladipo ou Otto Porter Jr., entre outros. Era sobretudo por ele que o pavilhão estava em festa para uma cerimónia de entrega dos anéis de campeão desenhados pela Jason, de Beverly Hills, com todos os pormenores: as simbólicas frases “Fear the Deer” e “Bucks in 6”; 360 diamantes correspondentes às vitórias da equipa com a nova administração; 16 diamantes em forma de esmeralda que representam os 16 triunfos no playoff de 2020/21 e os 16 títulos de divisão; 4,14 quilates de esmeraldas que correspondem ao código da área 414 de Milwaukee. Um momento que ninguém mais vai esquecer.

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Quando passam todos estes vídeos é muito difícil alguém não se emocionar, ver todo o nosso caminho de onde começámos até onde chegámos agora…”, destacou Giannis após o jogo.

Está mesmo na hora de todos aprenderem a dizer o nome dele: às costas de Giannis, Milwaukee Bucks são campeões da NBA 50 anos depois

A noite tinha tudo para ser memorável e também no primeiro encontro da temporada as coisas correram da melhor forma, com o grego a mudar de forma quase instantânea o foco da festa para o trabalho na receção a um conjunto dos Brooklyn Nets que continuam sem contar com Kyrie Irving, o anti-vacinas colocado de fora pela própria equipa. Kevin Durant, com 32 pontos e 11 ressaltos, e James Harden, com 20 pontos, oito ressaltos e oito assistências, estiveram ao nível habitual mas acabaram por ser curtos para os campeões da NBA, que venceram por 127-104 com 32 pontos, 14 ressaltos e sete assistências de Giannis, bem secundado por Khris Middleton e Pat Connaughton (saído do banco), ambos com 20 pontos.

As coisas correm bem aos Bucks na Conferência Este, as coisas não podiam correr pior aos Lakers em Oeste numa saga que se prolonga desde a pré-temporada: após averbar seis derrotas consecutivas nos encontros de preparação, que LeBron James minimizou por completo por não contar para a competição, a equipa de Los Angeles voltou a perder na receção aos Golden State Warriors por 121-114. LeBron, com 34 pontos e 11 ressaltos, e Anthony Davis, com 33 pontos e 11 ressaltos, fizeram por merecer mais mas a ligação com outras figuras como Russell Westbrook, DeAndre Jordan ou Carmelo deixa muito a desejar.

Do outro lado, e apesar de ser cedo para perceber até onde podem chegar os Warriors (caso não voltem a ter tantos problemas com lesões das principais figuras), Stephen Curry voltou a ser a grande figura, com a particularidade de alcançar o primeiro triplo duplo em cinco anos (21 pontos, dez ressaltos e outras tantas assistências) numa noite em que nem esteve muito certeiro nos lançamentos de campo. Jordan Poole (20 pontos), Bjelica e Damion Lee (15 pontos cada) foram outros destaques numa equipa que teve seis jogadores com dez ou mais pontos e apenas um sem pontos (Gary Payton II, que jogou sete segundos).

Em paralelo com os dois jogos que assinalaram o arranque da temporada, as atenções centraram-se ainda em Philadelphia, onde os 76ers continuam a viver um período particularmente atribulado com uma das principais estrelas no centro da novela: já depois de ter falhado as duas semanas de treino à espera que a equipa pudesse trocá-lo para outra equipa, Ben Simmons, que voltou aos trabalhos com as reservas, foi expulso do treino por Doc Rivers após ter recusado participar várias vezes num exercício. Além de falhar o primeiro encontro da equipa frente aos New Orleans Pelicans, o atirador vai ainda ter de pagar uma multa de 1,4 milhões de dólares (1,2 milhões de euros). E a história não deverá acabar por aqui.