A paragem para os compromissos das seleções nacionais foi talvez a melhor coisa que podia acontecer na semana passada ao Barcelona, que tentava curar feridas internas após duas derrotas pesadas com Benfica e Atl. Madrid. Não era com aqueles dez dias que se passaria da noite para o dia, do mau para o ótimo, mas a falta de competições internas teria o condão de esvaziar o balão da pressão que aumentava a uma cadência quase diária num clube em convulsão onde a equipa de futebol não passava ao lado. Foi isso que se sentiu em Camp Nou no domingo, diante do Valencia, com o regresso aos triunfos na Liga. Era isso que se queria sentir mais uma vez esta quarta-feira, na receção dos catalães ao sempre complicado Dínamo Kiev.

O Valencia marcou, assustou, mas perdeu, porque para o Barcelona não ganhar era um drama

O regresso do público às bancadas colocou ainda mais pressão no projeto de Koeman. É bom sentir esse apoio daqueles que ficaram tanto tempo de fora mas a passagem dos minutos faz do relógio um adversário temível para uma equipa blaugrana a tentar estabilizar uma ideia de jogo sem Lionel Messi. Ou seja, e se é verdade que não existe nada mais confortável do que ouvir os aplausos no arranque do encontro, todas as expressões de desespero quando os golos não aparecem têm tendência para aumentar a ansiedade de um conjunto de jogadores que paga sem culpa a fatura de uma crise que foi criada fora de campo.

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“Agora vamos jogar tudo, o nosso futuro na Champions. Se quisermos passar à fase seguinte, não temos alternativa que não somar pontos. Depois de perder dois jogos, temos de ganhar, não há outra hipótese. O que se passa com a equipa? Os outros clubes evoluíram muito nos últimos cinco anos; o Barcelona, por seu lado, regrediu. Não sei por quê, porque não estava no banco, mas é a realidade. Há equipas com plantéis com 23 internacionais e isso conta, forçosamente”, destacara Ronald Koeman antes da receção ao conjunto ucraniano que somava um ponto em dois jogos contra nenhum dos catalães até ao momento.

No final, sobraram três pontos, duas curiosidades e uma certeza: quando o técnico neerlandês diz que quer apenas que a equipa seja competitiva, está sobretudo a ser honesto porque nesta fase não dá para mais. Sem conceder margem para surpresas ao Dínamo Kiev, o Barça marcou o seu primeiro golo na Champions ao quarto remate enquadrado em 216 minutos na prova mas também não conseguiu uma exibição de encher o olho (longe disso), vendo Piqué marcar para tornar-se o jogador mais velho de sempre do clube a marcar na competição e subir a defesa com mais golos na Liga milionária a par de Roberto Carlos.

Em mais uma das “invenções” de Koeman em busca de soluções que possam suprir os evidentes problemas da equipa que não deixaram de existir pela vitória frente ao Valencia, Sergiño Dest, agora como ala direito, teve uma primeira boa oportunidade logo no segundo minuto de cabeça mas desviou por cima após grande trabalho de Jordi Alba pela esquerda. O Dínamo ainda ameaçou numa boa saída mas a primeira parte foi resumida ao meio-campo dos ucranianos, que viram Luuk de Jong desviar primeiro por cima (18′) e depois para grande defesa de Bushchan para canto (21′) antes do golo inaugural: Jordi Alba voltou a fazer a diferença pela esquerda, cruzou largo e encontrou Piqué para o 1-0 que quebrou a resistência da equipa visitante e colocou o Camp Nou a cantar o nome de um dos capitães que tantas vezes é criticado (36′).

O intervalo chegava com o Barcelona na frente mas Koeman queria mais e promoveu uma dupla alteração ao intervalo, com as entradas de Coutinho e Ansu Fati para os lugares de Mingueza e De Jong. Mais tarde, Sergi Roberto rendeu Gavi, Kun Agüero substituiu Memphis Depay. Entre alguns remates com perigo dos substitutos, os catalães não conseguiram passar da vitória pela margem mínima e com assinatura de Piqué, a referência à parte na equipa que dá a cara na defesa do clube, construiu um império em várias áreas extra futebol e tem tendência para levar uma vida preenchida fora de campo como aconteceu na véspera da partida, em que esteve à conversa no Twitch com o streamer Ibai Llanos sobre este encontro. Segue-se o Real Madrid. E a certeza de que o nível de exigência terá de ser bem superior para evitar nova derrota.

Piqué, o catalão que cria tempestades com o que diz e passa entre os pingos da chuva no que faz