Aumentos de preços e subida da taxa de inflação são as notas comuns na Alemanha, Espanha, França e Reino Unido na atual crise energética, a que se soma a falência de empresas fornecedoras de gás e eletricidade.

Os protestos de rua não têm tido expressão nestes quatro países mas a continuação da crise representa uma ameaça à estabilidade social.

Mais de uma centena protestam em Lisboa contra preço dos combustíveis

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Em média, o preço de venda ao público da gasolina na Alemanha cresceu, nos últimos seis meses, de 1,52 euros por litro, em abril, para 1,71 euros por litro, valor registado em outubro. Isto representa um aumento de 12,5% num espaço de seis meses.

No mesmo período, o gasóleo passou de custar 1,31 euros por litro para os atuais 1,54 euros por litro, uma subida de 18%.

Contrariamente a Portugal, onde o preço de venda é formulado à segunda-feira com base na evolução das cotações internacionais dos últimos sete dias, na Alemanha o preço dos combustíveis varia até três vezes por dia, principalmente nas áreas metropolitanas mais densamente povoadas, sendo bastante comum encontrar diferenças de 10 cêntimos por litro entre bombas de gasolina na mesma rua.

As flutuações de preço são normalmente iniciadas pelos grandes revendedores, e os dados confirmam que as grandes descidas ocorrem no período da 00h00 até as 08h00. Os maiores aumentos acontecem entre as 16h00 e as 24h00.

Relativamente à eletricidade, a Alemanha continua a ser o país da União Europeia onde mais se paga. No mês de outubro, os consumidores terão então de pagar 9,3% a mais quando comparado com o ano passado. Uma casa privada que necessita de 4000 quilowatts-hora por ano pagará agora 1.255 euros, cerca de 100 euros a mais quando comparado com o período homólogo.

O mercado de eletricidade é liberalizado e muito concorrencial, com campanhas, bónus de subscrição e de permanência, ofertas de carência e até pequenos eletrodomésticos.

No entanto, simulando um contrato de eletricidade simples, sabe-se que, uma família média da capital com três a quatro pessoas pagou em 2021 uma fatura média a rondar os 95 euros, mas, ao simular o mesmo cenário para 2022, os novos contratos já apresentam valores acima de 105 euros por mês.

Berlim já anunciou que vai reduzir os impostos sobre o consumo de energia já a partir do próximo ano. A sobretaxa do Ato de Energia Renovável, usada para financiar a expansão da energia eólica e solar, vai baixar mais de 40% (para 3,72 cêntimos por quilowatts-hora) logo a partir do primeiro dia do ano de 2022, a maior redução desde 2000.

De acordo com o Instituto Federal de Estatística, os custos com a energia aumentaram 12,6% em agosto em comparação com o período homólogo de 2020.

Segundo o portal de comparação de preços Verivox, o custo médio do gás natural para uma família com um consumo anual de 20.000 quilowatts-hora será de 1402 euros por ano em outubro de 2021, cerca de 300 euros mais elevado do que há um ano.

A inflação anual em Espanha subiu para 4% em setembro, 0,7 pontos percentuais mais do que em agosto e a taxa mais alta desde setembro de 2008, devido principalmente ao aumento de preços da eletricidade e dos combustíveis.

A preocupação crescente com o aumento de preço da energia, principalmente da eletricidade, foi de alguma forma atenuada por declarações feitas pelo primeiro-ministro espanhol que prometeu a sua contenção.

Pedro Sánchez ratificou na semana passada o seu compromisso de que no final do ano, e apesar do contínuo aumento dos preços da energia, a média da fatura da eletricidade paga pelos cidadãos será semelhante à de 2018, descontando a inflação.

O chefe do Governo espanhol explicou que a fatura da eletricidade tem três pilares, o custo da energia, custos fixos e impostos, e que em dezembro, os espanhóis verão na sua fatura que os impostos baixam 61% e que o custo fixo terá sido reduzido em 50%.

Da mesma forma, manifestou a sua convicção de que o governo irá moderar a evolução do preço no grossista com instrumentos nacionais, embora esteja preocupado com o facto de Bruxelas não estar a avançar tão rapidamente como gostaria para facilitar este processo.

A ministra da Transição Ecológica, Teresa Ribera, voltou a assegurar esta quarta-feira, no parlamento espanhol, que os consumidores domésticos irão verificar no final de 2021 que pagam o mesmo pela eletricidade, ou o mesmo em média durante todo o ano, como em 2018.

Em França, os preços da energia aumentaram significativamente no pós-pandemia, especialmente os combustíveis, levando o Governo a pensar em medidas para atenuar o impacto deste aumento nos franceses que utilizam diariamente o seu veículo para deslocações essenciais como trabalho e levar as crianças à escola.

O Governo francês deve apresentar entre hoje e amanhã um “cheque combustível” de forma a ajudar as famílias, já afetadas pela pandemia, a enfrentarem o aumento de despesa com as deslocações.

No entanto, a medida mostra-se de difícil aplicação, já que não há uma base de dados nacional que mostre quais condutores teriam direito a aceder a estes apoios.

O primeiro-ministro Jean Castex já se reuniu com o Presidente da República, Emmanuel Macron, que se terá mostrado favorável a esta medida. O ministro da Economia, Bruno Le Marie, reforçou que estes apoios vão ser dirigidos aos franceses “mais modestos”, que têm rendimentos médios.

Algumas regiões em França, como Hauts-de-France, no norte do país, já dão uma ajuda mensal de 20 euros a cerca de 50 mil condutores que comprovaram morar a mais de 20 quilómetros do seu local de trabalho e não ganham mais do que duas vezes o salários mínimo, ou seja, 1.539 brutos multiplicado por dois. Estes são alguns dos critérios que podem vir a ser utilizados a nível nacional.

O preço do litro de gasóleo, combustível fóssil mais utilizado em França, está entre 1,48 euros e 1,98 euros, nalguns postos da capital francesa, quando há um ano a média de preços era de 1,21 euros/litro.

Desde o início do ano já cessaram atividade 14 fornecedores de energia britânicos e prevê-se que mais companhias entrem em falência.

As empresas queixam-se que o teto imposto pelo regulador Ofgem às tarifas domésticas resulte numa acumulação de prejuízos porque ficam abaixo do preço de custo da energia.

Isto apesar de o teto [‘price cap’] ter aumentado entre 12 e 13% em 01 de outubro para os clientes com tarifas variáveis, afetando cerca de 15 milhões de pessoas.

“O limite de preço oferece uma rede de segurança para os clientes, garantindo que os fornecedores apenas repassem os custos legítimos. Como resultado, aqueles com tarifas-padrão estão a economizar cerca de 75-100 libras (90-120 euros) por ano”, justificou o regulador.

A falta de vento no Reino Unido para produzir energia eólica obrigou muitos fornecedores a abastecerem-se no estrangeiro nos últimos meses.

Muitos dos fornecedores de menor dimensão tornam-se insolventes porque não têm capacidade para comprar energia com grande antecedência e protegerem-se das variações no mercado internacional, como acontece com os principais concorrentes.

A falta de espaço para armazenamento no país e a forte competição internacional para reabastecer as reservas são outros fatores para o aumento acentuado dos preços do gás natural no Reino Unido, que é a principal fonte para produzir eletricidade que compense a falta das renováveis.

O Governo está atualmente sob pressão de indústrias de consumo intenso de energia, como metalúrgicas e da cerâmica, para impor um teto ao custo da energia para estas empresas, que arriscam fechar, desencadeando milhares de despedimentos.