É um dos maiores exemplares de talha dourada em Portugal e volta a estar incluído no roteiro turístico-cultural do Porto. A Igreja de Santa Clara, localizada no centro histórico da cidade, reabre ao público esta sexta-feira, depois de cinco anos de profundas obras de conservação e restauro. De cara lavada, com melhores condições para os visitantes e um novo capítulo escrito na sua história. “A igreja ganhou tridimensionalidade e uma leitura completamente distinta. E, para além de tudo, teve o tratamento adequado e necessário à preservação deste conjunto para o futuro”, refere ao Observador Adriana Amaral, responsável pelo restauro, da Direção Regional de Cultura do Norte.
Considerada um dos maiores exemplos de igrejas forradas a ouro, a Igreja de Santa Clara foi inaugurada em 1416 e classificada como monumento nacional em 1910. Escondida no largo Primeiro de Dezembro, encostada a parte da muralha fernandina, e mesmo ao lado do Comando Metropolitano da PSP, é uma obra que pode passar despercebida no exterior, mas que surpreende quem entra no seu interior, com todo o dourado que a cobre. “As pessoas ficam admiradíssimas e esmagadas pela opulência desta decoração, deste convento que no exterior é tão austero, mas onde no interior não se pouparam recursos. É completamente forrado, desde o teto às paredes, não escapou nenhum elemento com falta de decoração”, descreve Adriana Amaral.
A necessidade de intervenção nesta igreja já estava diagnosticada há algum tempo e começou oficialmente em 2014, numa primeira fase em que se tratou das coberturas e dos vãos — e se resolveu o problema da térmita, que estava a danificar a madeira. Em 2016 teve oficialmente início a “Operação de Santa Clara”, que se focou no sistema construtivo e estrutural do edifício, na remodelação das infraestruturas elétricas, de telecomunicações e de segurança, na redução de barreiras arquitetónicas e na criação de condições de visita. No total, a intervenção custou cerca de 2,5 milhões de euros, “um dos maiores investimentos em conservação e restauro realizados pela Direção Regional de Cultura do Norte”.
Para estas obras foi necessária uma equipa de mais de uma centena de pessoas, com técnicos de conservação e restauro de várias especialidades, desde a talha dourada e policromada, à escultura, pintura de cavalete, pintura mural, azulejo, pedra, metais e património organístico. A igreja que “parecia ter um ar triste, era muito acastanhada e de um só tom” passou a ter um brilho novo e o dourado voltou às paredes, bem como o restauro do órgão da nave da igreja, que vai voltar a ser ouvido esta sexta-feira. Gastaram-se várias quantidades de material de limpeza, desde cotonetes a algodão e até o uso de aspiradores para limparem os pós acumulados.
Houve também novas descobertas. Nos trabalhos de restauro, começaram aparecer fingidos de mármores, de várias pedras e com várias cores — vermelhos, azuis e brancos. “Na altura, quando começamos a perceber esta multiplicidade de cores, alguns ficaram em estado de choque”, revela Adriana Amaral. Foram também descobertos um conjunto de anjos pintados por baixo de umas peças em talha e uma lápide de 1645 em granito, em honra do Abade da Vandoma.
Todo o processo e pormenores desta operação de conservação e restauro vai poder ser visualizado numa sala multimédia criada para os visitantes. “As pessoas vão poder perceber a complexidade deste trabalho e o estado de conservação em que se encontrava todo este conjunto antes da conclusão das obras”, indica a responsável, acrescentando que houve também uma dimensão de investigação e de estudo histórico desta obra. A partir das 14h desta sexta-feira, dia 22, a Igreja de Santa Clara abre ao público para visitas.