A obra fragmentada de Eduardo Lourenço é a grande tese que nunca escreveu e a sua leitura é essencial para compreender a cultura portuguesa, defendeu José Carlos Vasconcelos, em Óbidos, onde apresentou a obra completa do ensaísta.

“Eduardo Lourenço é irrepetível”, defendeu este sábado José Carlos Vasconcelos, no Folio — Festival Literário Internacional de Óbidos, considerando que a “grande tese que nunca teve”, está na realidade contida na “forma fragmentada extraordinária obra” deixada pelo filósofo e ensaísta português que morreu em 2020.

“Interessado em tudo e por tudo”, Eduardo Lourenço, deixou “textos absolutamente fundamentais e que terão um papel essencial para os mais novos perceberem a realidade cultural” do país, através da obra do pensador que “estava em criação constante” acrescentou.

O caráter “extraordinário” e “multifacetado” da obra de Eduardo Lourenço foi realçado este sabado por José Carlos Vasconcelos e por Guilherme d’Oliveira Martins, que anunciaram para 2022 o lançamento dos últimos três volumes das Obras Completas de Eduardo Lourenço, numa edição da Fundação Calouste Gulbenkian.

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Paraíso sem mediação, Pessoa Revisitado e Labirinto da Saudade são os três títulos da coleção ainda por publicar no âmbito da coleção dedicada ao filósofo que “pensava a realidade”.

“Uma grande figura humana, um intelectual e um criador” a que os dois oradores reconhecem ainda qualidades como “a curiosidade, a generosidade” e a capacidade de, com os seus ensaios “iluminar, dar uma nova luz” sobre todos os autores, artes e temáticas sobre as quais escreveu. “Grande parte dos seus ensaios tem um ritmo e um poder metafórico próprios da literatura”, afirmou José Carlos Vasconcelos, salvaguardando que, apesar de nunca ter escrito um romance ou um grande poema, Eduardo Lourenço não deixou de ser “um grande escritor”.

As Obras Completas de Eduardo Lourenço, editadas pela Fundação Calouste Gulbenkian, estão disponíveis até ao 10.º volume no âmbito da série de Cultura Portuguesa.

A coleção integra os títulos Heterodoxias, Sentido e Forma da poesia neo-realista e outros ensaios, Tempo e Poesia, Tempo Brasileiro, Tempo da Música, Estudos sobre Camões, Antero, Portugal como Tragédia, Requiem para Alguns Vivos, Pessoa Revisitado. Crítica Pessoana I, 1949 — 1982 e Jorge de Sena, Contemporâneo Capital, o último volume a ser dado à estampa, com coordenação de Gilda Santos e que além de ensaios e artigos, reúne a extensa correspondência trocada entre os dois.

O Folio encerra no domingo, depois de 11 dias de literatura e folia na vila onde 175 autores e escritores participam na edição que tem como tema “O outro”. O festival marca o regresso dos eventos presenciais em Óbidos com a realização de mais de 160 atividades previstas no programa que integra 16 mesas de autor e debates no Folio Autores, 35 iniciativas no Folio Educa, 75 eventos do Folio Mais, Banda Desenhada e Folio Ilustra, 23 concertos e 12 exposições.