A Câmara do Comércio de Ponta Delgada realiza em 5 de novembro uma assembleia-geral para “acabar com o clima de suspeição” em torno das Agendas Mobilizadoras do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), anunciou esta sexta-feira o presidente da instituição.

Em causa estão as candidaturas de empresas açorianas a 117 milhões de euros do PRR, com partidos políticos e Câmaras do Comércio a criticarem a forma como o processo foi conduzido, alegando que algumas foram privilegiadas.

As críticas à forma como o Governo se envolveu nas candidaturas às Agendas Mobilizadoras do PRR, que dizem respeito a 117 milhões de euros destinados pelo Governo da República a empresas da região, marcou o debate de terça-feira no parlamento regional, porque a iniciativa terá deixado de fora grande parte dos empresários do arquipélago, que alegam não terem tido conhecimento do processo.

O Governo Regional chegou a dizer que contratou consultoras que, “em articulação com as Câmaras do Comércio de Angra, Horta e Ponta Delgada, apoiaram a elaboração destas agendas e a formalização dos respetivos consórcios“.

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Contudo, as Câmaras do Comércio de Angra do Heroísmo e da Horta pediram ao Governo açoriano para clarificar que foi da congénere de Ponta Delgada “a liderança” das Agendas Mobilizadoras do PRR.

Em comunicado, aquelas estruturas das ilhas Terceira e do Faial indicam que “a liderança das Agendas foi claramente da CCIPD [Câmara de Comércio e Indústria de Ponta Delgada], sem curar de envolver as suas congéneres de Angra e Horta, desrespeitando-as e menorizando a intervenção que, por direito, também lhes cabia”.

Na quarta-feira, o presidente do Governo Regional dos Açores, José Manuel Bolieiro, anunciou que as candidaturas das empresas açorianas a 117 milhões de euros do PRR vão começar do zero, com a garantia de que não se perde um cêntimo.

Em declarações aos jornalistas, José Manuel Bolieiro disse que o objetivo é acabar com as suspeições sobre o Governo dos Açores e sobre as empresas da região que se candidataram às Agendas Mobilizadoras.

Esta sexta-feira, numa conferência de imprensa, o presidente da Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada (CCIPD), em São Miguel, disse que se “criou um clima de suspeição intragável” em torno deste processo.

“Esta situação gerou muita insatisfação junto dos associados da Câmara do Comércio, porque naturalmente se sentiram de alguma forma excluídos, seja porque se gerou este ruído todo à volta da Câmara do Comércio e naturalmente que centrado em mim”, sustentou Mário Fortuna, esperando que a assembleia-geral de dia 05 de novembro “seja clarificadora”.

Mário Fortuna, que lidera a Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada há 12 anos, afirmou que se trata de “um episódio super desagradável deste percurso”, vincando que a “instituição sempre pugnou pela defesa dos interesses dos empresários”.

O dirigente frisou que tem “muito gosto em prestar os esclarecimentos” que os associados considerarem “úteis” sobre o tema das candidaturas às Agendas Mobilizadoras, mas reforçou que “não” fez “absolutamente nada que beliscasse” a condição para continuar à frente da CCIPD.

No entanto, referiu que a sua permanência ou não na liderança da instituição será “uma situação” que vai “avaliar em devido tempo”.

Lamentamos que todas estas situações tenham trazido a público ruído, tenham levado à Assembleia (Legislativa Regional) ruído que prejudicou seriamente um projeto de concentração ou de utilização de fundos comunitários nos Açores. Ainda bem que este Governo conseguiu que a verba não fosse perdida, por não ter sido concretizada neste aviso de candidatura. Isto deixa-nos mais tranquilos para refazer o processo noutros moldes com seguramente menos ruído”, sustentou.

Na conferência de imprensa, Mário Fortuna detalhou todo o processo, assegurando que a CCIPD fez “um esforço enorme” no sentido de “mobilizar muita gente” para participarem de “uma forma bastante rápida”, pois “o tempo era demasiado curto”, já que o processo “teria de estar concluído até 30 de setembro”.

Explicando a natureza das candidaturas ao PRR, Mário Fortuna frisou que “não foi” a CCIPD que formatou o programa e “o dinheiro” em causa “não é dinheiro da Câmara do Comércio” e disse que a presença da instituição nas Agendas Mobilizadoras “foi uma presença facilitadora”.

“Nunca dei indicações para que fosse a empresa A, B ou C selecionada“, reforçou, esclarecendo que “os consultores viram a panóplia de empresas que apresentaram manifestações de interesse” e propuseram a proposta “em função da melhor probabilidade do projeto ter sucesso”.

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Mário Fortuna lamentou que tenha “deixado de funcionar” a colaboração que “sempre funcionou” entre as Câmaras do Comércio de Ponta Delgada, Angra (Terceira) e Horta (Faial) e referiu que “as Câmaras do Comércio nunca se hostilizaram a este nível”.

“Repúdio liminarmente qualquer acusação de amigos e amiguinhos”, reforçou o presidente da CCIPD (associação empresarial das ilhas de São Miguel e Santa Maria).