Até à passada quinta-feira, a pior derrota da carreira de José Mourinho tinha sido uma goleada sofrida em Camp Nou, às mãos do Barcelona, quando ainda era treinador do Real Madrid. Nesse dia de novembro de 2010, há mais de uma década, Xavi, Pedro, David Villa e Jeffrén anularam uma equipa merengue que tinha Ricardo Carvalho, Pepe e Cristiano Ronaldo. E Mourinho passou mais de 10 anos sem saber o que era perder dessa forma.

Ainda assim, o que se passou na quinta-feira não deixa de ser pior — muito pior. A Roma de José Mourinho foi goleada na Noruega, na Liga Conferência, frente ao Bodø/Glimt, uma equipa cujo ponto alto europeu foi a chegada à segunda ronda da Taça dos Campeões Europeus já em 1978/79. O treinador português procurou gerir a equipa, fez muitas alterações e o conjunto italiano não soube corresponder a uma exibição positiva dos noruegueses. No fim, muito à sua maneira, Mourinho não poupou ninguém.

Mourinho nunca tinha ido ao “lindo sítio” que é a Noruega e não deve querer voltar em breve: A Roma foi goleada pelo Bodo/Glimt (6-1)

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“A culpa é só minha, porque decidi jogar com esta equipa. Num campo sintético e com estas condições, decidi deixar muitos a descansar. Perdemos contra uma equipa que tem mais qualidade do que a nossa que iniciou o jogo. É uma derrota que vai deixar marcas. A única parte positiva é que ninguém vai voltar a perguntar porque é que jogam sempre os mesmos. Acho que é um grande risco usar sempre os mesmos. Existe uma grande diferença de qualidade entre um grupo de jogadores e outro. Decidi fazer estas mudanças, apesar de conhecer os limites de alguns dos nossos jogadores, mas esperava uma resposta melhor”, explicou o técnico, que segundo a imprensa italiana terá criticado principalmente Borja Mayoral, Gonzalo Villar, Diawara, Bryan Reynolds e Marash Kumbulla no balneário, garantindo que “não jogariam nem na Noruega nem na Serie B”.

Ora, ainda na ressaca da goleada, a Roma recebia o Nápoles no Estádio Olímpico — um Nápoles que tem estado na liderança da Serie A, que levava oito vitórias em oito jornadas e que tem tido em Osimhen, o avançado nigeriano de 22 anos, o principal destaque da equipa. Assim, Mourinho voltava ao onze tipo, com Tammy Abraham, Pellegrini, Zaniolo e Mkhitaryan mas também Cristante e Veretout. Kumbulla, Reynolds, Diawara, Villar, Faraone e Mayoral, todos titulares contra o Bodø/Glimt, nem sequer apareciam nos convocados. Do outro lado, para além do natural Osimhen, Luciano Spalletti lançava Insigne, Politano e Zielinski, deixando Mertens e Lozano no banco.

Numa primeira parte muito à italiana, encaixada no meio-campo e com poucas aproximações à baliza, Osimhen teve a primeira ocasião para abrir o marcador, aparecendo em boa posição para finalizar antes de ser desarmado (14′). A Roma respondeu por intermédio de Tammy Abraham, que atirou ao lado na cara de Ospina (28′), e Insigne também tentou a sorte ao atirar para defesa de Rui Patrício (45′). Ao fim de 45 minutos de grande equilíbrio, apesar de um ligeiro ascendente do Nápoles que era notório não só na posse de bola como nos remates realizados, as duas equipas estavam empatadas e era já claro que o resultado poderia ficar decidido através de um lance isolado de inspiração de um dos lados.

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo e o primeiro lance de perigo acabou por pertencer ao Nápoles e novamente a Osimhen, que acertou na bola depois de um desequilíbrio de Politano (60′). A Roma reagiu por Pellegrini, que rematou ao lado após um passe de Karsdorp (66′), e por volta da mesma altura José Mourinho decidiu mexer na equipa e tirar Mkhitaryan para lançar El Shaarawy. Spalletti respondeu com Elmas e Lozano e a dupla alteração dos napolitanos quase coincidiu com o golo dos giallorossi: na sequência de um livre cobrado por Pellegrini na direita, Mancini cabeceou e ficou a centímetros de abrir o marcador (72′).

Já dentro dos últimos 10 minutos, José Mourinho acabou por ser expulso depois de pontapear o ar, sendo que já tinha visto cartão amarelo por protestos durante a primeira parte. Perto do fim, Osimhen colocou a bola no fundo da baliza, ao cabecear na área depois de um cruzamento de Fabián Ruiz (88′), mas o lance foi anulado por fora de jogo do avançado. Roma e Nápoles não foram além de um nulo e a equipa de Mourinho, no regresso aos eleitos do costume e na resposta à goleada na Noruega, não conseguiu ganhar — mas também não perdeu contra o conjunto de Luciano Spalletti, algo que ainda ninguém tinha alcançado esta temporada na Serie A, com o AC Milan a juntar-se aos napolitanos no topo da classificação.