Com seis Grandes Prémios por cumprir até ao final da temporada, a Mercedes está numa posição em que não se encontrava há muitos anos: corre o risco de ver Lewis Hamilton não conseguir chegar ao título e corre até o risco de não ver nenhum dos dois carros da equipa conseguir chegar ao título. Nico Rosberg foi o último que não Hamilton a ser campeão, em 2016, e o Red Bull de Sebastian Vettel, em 2013, foi o último que não um Mercedes a ser campeão — em 2021, Max Verstappen quer tornar-se o senhor que se segue nas duas vertentes.

E Christian Horner, o diretor da Red Bull que foi o maestro por detrás do tetracampeonato de Vettel e que quer fazer o mesmo por Verstappen, tem plena noção de que a Mercedes tem uma pressão adicional que está a ser difícil de gerir. “É uma competição. Se compararmos com os anos em que competimos com a Ferrari e a McLaren, entre 2010 e 2013, isto tem sido muito diferente. Há muito mais a acontecer nos bastidores. Nos últimos anos, a Mercedes não experienciou nada que não fosse ganhar. Agora, têm um tipo diferente de pressão. É duro”, explicou Horner em entrevista ao The Guardian, deixando depois a opinião que tem sobre a rivalidade de Hamilton e Verstappen, que este ano já se envolveram em dois graves acidentes e têm trocado comentários azedos nas redes sociais.

“Verstappen está ao nível dele e Hamilton nunca teve isso. Nunca houve nada com este grau de intensidade”, diz o diretor da Red Bull

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“Inevitavelmente, tem de existir uma evolução. O Lewis teve uma carreira fantástica e ainda está em ótima forma. Ainda é um titã do desporto. O facto de o Max estar ao nível dele é algo que o Lewis nunca tinha tido na carreira. Nunca teve nada com este grau de intensidade. Claro que está muito em risco para ele, porque está a tentar chegar ao recorde do oitavo título, mas o Max está atrás do primeiro e sabe que ainda tem muitos anos pela frente”, acrescentou o britânico, que está há 17 anos na Red Bull.

Este domingo, os dois pilotos tinham a primeira de seis finais no Grande Prémio das Américas, em Austin. Com seis pontos de vantagem em relação a Lewis Hamilton na classificação geral, depois de ter ficado no segundo lugar do GP da Turquia e o inglês ter sido quinto, Max Verstappen venceu a primeira batalha do fim de semana ao agarrar a pole-position. Na última volta da qualificação, o piloto holandês tornou-se o único a rodar no segundo 32 no circuito norte-americano e conquistou o primeiro lugar da grelha de partida, com Hamilton a sair de segundo. Sergio Pérez ficou com a terceira posição, seguido de Bottas no que toca à velocidade mas não na grelha, já que o finlandês da Mercedes trocou o motor de combustão interna e foi penalizado, arrancando apenas do 9.º lugar.

No arranque, Lewis Hamilton teve uma saída canhão e roubou desde logo a liderança a Max Verstappen, com o piloto holandês a ser forçado a sair mais largo nas primeiras curvas e a perder alguns segundos. Atrás, Sergio Pérez deixou notório que não ia atacar o colega de equipa e que ia deixar que os dois da frente dividissem entre si a luta pela vitória no Grande Prémio. No pelotão, Bottas ia tendo alguma dificuldade para escalar posições e, ao fim de cinco voltas, tinha até caído para 10.º, ultrapassado por Yuki Tsunoda.

Hamilton e Verstappen não demoraram muito a cavar alguma distância para Sergio Pérez e principalmente para os nomes que se seguiam e o holandês da Red Bull ia conseguindo manter-se dentro da distância de um segundo que lhe permitia utilizar o DRS. Fernando Alonso foi o primeiro a parar para montar pneus duros e abriu a porta a uma tendência que foi prolongada por Antonio Giovinazzi, Tsunoda e também George Russell. Nesta altura, Verstappen apertou o ritmo e procurou o undercut, recorrendo também às boxes na 10.ª volta para colocar pneus duros. Hamilton ainda disse à equipa que não existia necessidade de parar, surgiu no ar a ideia de que a Mercedes poderia ir para uma única paragem mas o piloto britânico acabou por ir à box pouco depois.

O problema foi que, nesse período em que Verstappen já tinha pneus novos e Hamilton ainda não tinha parado, o holandês aproveitou para fazer a melhor volta da corrida e ficar quase dois segundos mais rápido do que o rival. Ou seja, quando Hamilton saiu das boxes, estava não só no segundo lugar como a mais de seis segundos do Red Bull — um undercut perfeito de Verstappen, direitinho para os manuais.

Mais atrás, já depois de Pierre Gasly abandonar com problemas na suspensão, Alonso e Räikkönen lançaram-se numa disputa acesa pelo 12.º lugar que envolveu investigações por alegadas violações dos limites de pista, comunicações rádio muito entusiasmadas e momentos de enorme competitividade — protagonizados pelos dois pilotos mais experientes da grelha. Pouco depois, à 30.ª volta e de forma algo surpreendente, por ainda ter acabado de superar a primeira metade da corrida, Max Verstappen voltou a parar, calçando um novo jogo de duros. O piloto da Red Bull voltou em terceiro e atrás de Sergio Pérez, ainda que apenas momentaneamente porque o colega de equipa depressa facilitou a ultrapassagem, e viu Hamilton carimbar a volta mais rápida neste período, colocando-se a uns 16 segundos que ainda não chegavam para parar e regressar na liderança.

Hamilton parou oito voltas depois de Verstappen, voltou nove segundos atrás do holandês e, apesar de ter perdido algum tempo para dobrar Vettel, ganhou em todos os parciais na segunda volta depois da paragem e colocou-se rapidamente a quatro segundos da liderança. Nesta altura, Toto Wolff, o diretor da Mercedes, deixava uma garantia: tudo ficaria decidido nas últimas três voltas no COTA, o Circuit of the Americas, em Austin.

O piloto britânico mantinha um ritmo assinalável, rodando consistentemente no segundo 38 — algo que Verstappen não conseguia fazer –, mas o holandês da Red Bull tinha a certeza, por parte da equipa, de que os pneus traseiros tinham a margem suficiente para aguentar a reta final da corrida de forma competitiva. Nesta altura, Alonso também acabou por abandonar devido a problemas na asa traseira.

Nas últimas voltas, a Red Bull mostrou ter tido a estratégia certa nas paragens, Verstappen mostrou ter sido perfeito a gerir o desgaste dos pneus e Hamilton nem sequer teve hipótese para abrir o DRS nos derradeiros segundos: o piloto holandês ganhou o Grande Prémio das Américas, deixando o britânico em segundo e com a volta mais rápida, e aumentou para 12 pontos a vantagem que tem na liderança do Campeonato do Mundo de Fórmula 1 naquela que foi a primeira de seis finais desta temporada. Sergio Pérez fechou o pódio, seguido de Charles Leclerc, Daniel Ricciardo e Valtteri Bottas, e a modalidade rainha do automobilismo voltou a ter mais uma corrida que foi um verdadeiro filme de Hollywood.