A presidência de Donald Trump e a falta de intervenção da União Europeia em conflitos internacionais foram fatores apontados este domingo para o recuo dos direitos humanos, tema que, no dia das Nações Unidas, encerrou os debates do Folio.

“A presidência de Donald Trump [nos EUA]” foi, para a ex-candidata à presidência da república Ana Gomes o que “correu mal” no primeiro mandato de António Guterres como secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Oradora no último debate do Folio — Festival Literário Internacional de Óbidos, Ana Gomes apontou ainda como fatores para “o recuo da agenda dos direitos humanos” o facto de, em alguns conflitos internacionais, como o caso da Líbia, ter “faltado Europa”.

“O que vi foi potências europeias a lutar pelos esquemas habituais, venda de armas, contratos de petróleo”, mas faltou “articulação da União Europeia o que acabou por condicionar a ação da ONU”, afirmou.

Ana Gomes admitiu haver entre os ativistas dos direitos humanos “um balanço critico” do mandato de António Guterres, apesar do seu contributo para “o aumento do número de mulheres” nas estruturas daquele organismo e da sua defesa “pela humanidade mais básica nas questões dos refugiados”.

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No entender de Ana Gomes, o responsável pela ONU pode, no entanto, “ainda fazer a diferença nas questões da desigualdade e da fiscalidade, no combate aos fluxos ilícitos de capital”.

Ana Gomes falava num debate inserido no Folio Mais, em que a biografia de António Guterres, da autoria de Pedro Latoeiro e Filipe Domingues, foi o mote para um balanço do mandato do secretário-geral da ONU, assinalando, precisamente o dia das Nações Unidas.

Em torno da obra que tem por título “O mundo não tem de ser assim”, a conversa incluiu ainda a jornalista Cândida Pinto e a diretora do Instituto de Defesa Nacional, Helena Carreiras, para quem “as Nações Unidas, de facto já foram mais respeitadas”, mas que acredita que “ainda é possível fazer diferente”, cada vez mais desigual.

O Dia das Nações Unidas (24 de outubro) assinala a criação,  no final da Segunda Guerra Mundial, do organismo que pretende assegurar a resolução de conflitos e a cooperação internacional, tendo por base uma carta que tem como princípios a paz, o desenvolvimento, os direitos humanos e oportunidades para todas as pessoas.

Valores que estiveram em discussão no encerramento do festival, depois de 11 dias de literatura e folia na vila onde 175 autores e escritores participaram na edição que teve como tema “O outro”.

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O festival marcou o regresso dos eventos presenciais em Óbidos com mais de 160 atividades desenvolvidas ao longo de 11 dias, entre as quais 16 mesas de autor e debates no Folio Autores, 35 iniciativas no Folio Educa, 75 eventos do Folio Mais, Banda Desenhada e Folio Ilustra, 23 concertos e 12 exposições.