Numa sessão de esclarecimentos com crianças convidadas realizada esta segunda-feira em Downing Street, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson disse que a reciclagem do plástico não é uma das soluções para a crise das alterações climáticas.

“Tenho de ser honesto convosco, a reciclagem não é a solução”, afirmou, Boris Johnson, segundo o jornal britânico The Guardian. “Só é possível reciclar o plástico algumas vezes, na verdade. O que temos de fazer é parar com a produção de plástico, e igualmente com o nosso consumo de plástico”, explicou o primeiro-ministro. Boris Johnson aproveitou ainda a sessão de esclarecimento para censurar a Coca-Cola por ser uma das 12 companhias “que produzem a esmagadora quantidade de plástico no mundo”.

A Associação de Reciclagem do Reino Unido disse, segundo a BBC, que Boris Johnson tinha “perdido a lógica em torno do plástico”. Simon Ellin, da associação, considerou que os comentários de Boris Johnson “foram bastante desapontantes” e pareciam entrar em conflito com as políticas governamentais.

Alguns ativistas contra o plástico, contudo, apoiaram os depoimentos do primeiro-ministro. Sian Sutherland, cofundador da organização “A Plastic Planet” (“Um Planeta de Plástico”) disse que “menos de 10% do plástico é reciclado no Reino Unido. Apesar de ser reforçado pela indústria como uma solução para o problema, só tem na verdade contribuído para justificar uma sobreprodução e criar uma dependência da indústria a este material tóxico e indestrutível”.

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Uma outra declaração do primeiro-ministro do Reino Unido tornou-se polémica, durante a sessão de esclarecimentos, quando Tanya Steele, chefe executiva da associação climática “We Wont Forget” (Não Esqueceremos”), afirmou que os humanos e os seus animais domésticos compõem 97% dos mamíferos no planeta, deixando recursos muito limitados para a vida selvagem existente. Boris Johnson sugeriu, em tom de piada, que para equilibrar a natureza, “poderíamos alimentar alguns humanos aos animais”.

Ainda segundo o The Guardian, o primeiro-ministro do Reino Unido baixou as expectativas em relação ao sucesso da Conferência do Clima (COP26) que se realiza a partir de sexta-feira em Glasgow (Escócia). De acordo com Downing Street, o presidente russo Vladimir Putin confirmou também que não marcará presença na conferência internacional “à luz dos recentes desenvolvimentos da Covid-19”.

Proposta sobre nova mina de carvão assombra o Reino Unido a poucos dias de receber a Cimeira do Clima

O Reino-Unido vai ser anfitrião da Cimeira do Clima, numa altura em que o país se encontra dividido em matéria ambiental. Em 2020, o governo britânico anunciou que pretendia eliminar as centrais de eletricidade movidas a carvão até 2024.

Os ambientalistas, contudo, consideram que o governo do Reino-Unido “deu um tiro no pé” na matéria ambiental ao propor a construção de uma nova mina de carvão em West Cumbria, no noroeste de Inglaterra (a primeira no pais em três décadas). Prevê-se a extração de 3 milhões de toneladas de carvão metalúrgico por ano nesta nova mina.

“Com o mundo a avançar em direção a uma crise climática catastrófica, devemos carregar no travão, não no acelerador com mais combustíveis fósseis”, explicou Tony Bosworth, ativista climático da “Friends of the Earth” (“Amigos da Terra”), à AFP.

Na sessão desta segunda-feira, o primeiro-ministro britânico foi questionado em relação ao apoio de mais minas de carvão.  “Não queremos apoiar novas minas de carvão, o que queremos fazer é continuar o nosso progresso em direção a um futuro de carbono zero”, afirmou Boris Johnson.

As autoridades locais aprovaram a mina no ano passado, mas em março deste ano o executivo britânico abriu um inquérito ao planeamento da mina sob pressão da oposição. A decisão será tomada apenas depois da realização da Cimeira do Clima.

O chefe de Estado britânico mostrou alguma incerteza em relação às políticas que poderiam advir da COP26. “Vai ser extremamente difícil, esta cimeira, e estou bastante preocupado porque pode correr mal. Podemos não conseguir alcançar os acordos que necessitamos. É incerto se conseguiremos atingir o progresso que pretendemos”.

Cimeira do clima decisiva para resolver o que ainda falta para cumprir Acordo de Paris

Além da recusa de Putin em participar na cimeira, é ainda incerto se o líder chinês, Xi Jinping vai participar no evento, uma vez que ainda não viajou para fora da China desde que se iniciou a pandemia da Covid-19.