Um grupo de alto dirigentes do CDS enviou uma carta a Francisco Rodrigues dos Santos a pedir o adiamento do Congresso e das respetivas eleições internas, sob o argumento de que o partido não pode continuar em “clima de guerrilha e de agressividade interna” a tão pouco tempo de eleições antecipadas.

Na carta, a que o Observador teve acesso, os subscritores argumentam que “neste quadro excecional, a única coisa que os portugueses esperam do CDS é que se foque em oferecer uma alternativa de governo e lhes devolva a esperança”.

“O agravamento, por mais um mês, do clima de guerrilha e de agressividade interna a que vimos assistindo desde que o Congresso foi convocado, não só não dignifica o partido, como nos desvia do essencial e não esclarece os eleitores. Pior: não passa de um tremendo frete ao Partido Socialista – o nosso verdadeiro adversário – que entrou já hoje em campanha eleitoral”, pode ler-se ainda na missiva.

Depois de lembrarem as exigências do calendário eleitoral que se perspetiva — legislativas em janeiro –, os subscritores da carta pedem diretamente a Rodrigues dos Santos que adie as eleições internas.

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“O CDS não deve desperdiçar esta oportunidade de dar aos portugueses um sinal de responsabilidade e de maturidade. A realização de um Congresso em vésperas de eleições alhearia o partido da importante tarefa que o nosso eleitorado espera de nós. É por isto que lhe pedimos que solicite, com urgência, a realização de um Conselho Nacional extraordinário que desconvoque o Congresso e que mobilize o partido para a sua missão essencial: ganhar o país.”

A carta é assinada por é Artur Lima, presidente do CDS/Açores, e vários líderes distritais, Aveiro, Coimbra, Leiria, Viseu, Porto, Viana do Castelo, Vila Real, Santarém e Setúbal, entre outros dirigentes intermédios do partido, como delegados distritais de Beja, Bragança, Portalegre ou Faro. Todos próximos de Francisco Rodrigues dos Santos.

O cenário de adiar as eleições chegou a ser assumido por Francisco Rodrigues dos Santos apenas como hipótese académica e muito antes de a crise política se ter concretizado. Esta quinta-feira, a Comissão Política Nacional do CDS vai reunir para discutir a atual situação política e, com grande grau de probabilidade, discutir essa hipótese.

Rodrigues dos Santos só tomará uma decisão depois de ponderar todos os argumentos, a favor e contra. Aconteça o que acontecer, no entanto, a direção do CDS já formou uma convicção: com o país a ir a votos, será prejudicial para o partido atravessar uma campanha interna que se avizinha fratricida.

Nuno Melo e os apoiantes do eurodeputado têm tentado, nos últimos dias, antecipar a eventual estratégia de Francisco Rodrigues dos Santos. Ainda esta quinta-feira, o candidato à liderança do CDS foi cristalino: “Quem queira evitar o voto dos militantes não terá qualquer legitimidade”.