A reprodução da música “Fragile”, do cantor malásio Namewee e da cantora australiana Kimberley Chen, foi banida da China no domingo, por conter o que Pequim considerou serem insultos ao povo chinês e ao regime. O compositor reagiu esta terça-feira, afirmando que a intenção não era ofender e garantiu que não está arrependido do conteúdo da música. “Eu sou [etnicamente] chinês. Estou a insultar-me?”, lê-se no comunicado publicado na sua conta de Instagram.

Embora não haja referência direta à China, a letra, que oficialmente é sobre romantismo e sobre quebrar corações, fez o regime chinês acreditar que se está a querer tocar em vários tópicos delicados no país, tais como os alegados campos de trabalhos forçados e a censura. “Carregando algodão e colhendo o seu mel favorito” é uma dessas referências.

Mais à frente, canta-se, em mandarim: “É ilegal violar o firewall, deixarás saudades se o Pooh descobrir”, aludindo às comparações entre o rosto do Presidente Xi Jinping e a personagem infantil Winnie the Pooh.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Ano letivo arranca na China com “Pensamento de Xi Jinping” no currículo

No videoclipe, vê-se um cenário em tons rosas, onde a figura de um panda marca presença – animal associado à China. Algumas partes da letra e do cenário podem ser encarados como uma crítica aos “little pinks (“rosinhas”, em tradução livre), o exército cibernético da China composto por jovens nacionalistas voluntários, que são altamente sensíveis a qualquer crítica ao líder do país, Xi Jinping. “Tem cuidado se fores uma rosa frágil”, diz a letra.

Outra alegada mensagem subliminar é a referência ao carinho do povo chinês por “cães, gatos, morcegos e civetas”, aliada à imagem do panda a cozinhar sopa de morcego: pode ser lida como uma referência às possíveis origens do coronavírus.

Apesar de todas estas coincidências, Namewee nega quaisquer segundas leituras, argumentando que a música “só quer expressar amor por pequenos animais”. “Não tenho ódio pelos chineses. Aprendi chinês desde criança e adoro a cultura chinesa”, referiu, notando, porém: “Não quero ir para a China porque há muita censura e restrições, e temo que isso afete a minha criatividade e o meu trabalho”.

Depois de estrear no YouTube a 15 de outubro, o videoclipe teve milhões de visualizações e tornou-se uma tendência em regiões de língua chinesa, como Hong Kong, Taiwan, Malásia e Singapura. Até terça-feira, acumulou mais de 17,6 milhões de visualizações.

Entre as acusações, Namewee foi igualmente recriminado por promover a independência de Hong Kong e Taiwan. “Eu nunca disse nada [sobre a independência de Hong Kong e Taiwan]. Se não acreditam em mim, podem pesquisar”, desafiou o cantor.

“Sobre esta questão, vocês devem perguntar ao povo de Hong Kong e Taiwan o que eles pensam. A minha nacionalidade é malásia. Não posso falar em nome deles”. Contudo, deixou a dica: “Eu definitivamente estarei do lado da liberdade e da democracia. Os direitos humanos com os quais nascemos são valores universais”.

Presidente de Taiwan assume que há militares norte-americanos na ilha em momento de tensão com China

Poucos dias depois de a música vir a público, as contas de Namewee e Kimberley no Weibo — o equivalente chinês do Twitter — foram bloqueadas pelos censores chineses. Também foi retirada de várias plataformas de streaming de música chinesa.