A ministra da Saúde afirmou esta quarta-feira que o estudo divulgado também esta quarta-feira que estima que mais de 4.400 cancros terão ficado por diagnosticar e milhões de consultas por fazer traz “um conjunto de alertas” que o ministério acompanha “com preocupação”.
Mais de 4.000 doentes com cancro ficaram por diagnosticar no último ano
Dados de um estudo divulgado pelo Movimento Saúde em Dia, constituído pela Ordem dos Médicos, da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares e da Roche, indicam que nos dois últimos anos ficaram por realizar 14 milhões de consultas médicas presenciais nos centros de saúde em comparação com 2019.
Aponta ainda que se registaram menos 18% de mulheres com mamografia realizada, menos 13% com colpocitologia atualizada e menos 5% de utentes com rastreio do cancro do colon e reto efetuado face a 2020.
Questionada sobre estes dados no debate “União Europeia da Saúde: prevenir, cuidar e colaborar”, que decorreu esta quarta-feira em Lisboa e contou com a presença da Comissária Europeia da Saúde e Segurança dos Alimentos, Stella Kyriakides, a ministra da Saúde afirmou que o estudo “traz um conjunto de alertas”.
“Naturalmente que acompanhamos com preocupação os alertas que esse estudo traz”, disse Marta Temido, que já tinha manifestado anteriormente no debate que era necessário “captar a atenção mediática” e a união que existiu para combater a Covid-19 para responder às outras doenças, uma mensagem partilhada por Stella Kyriakides.
Marta Temido disse ser “muito significativo” que a agenda da União Europeia para a Saúde e da Comissária da Saúde e da Segurança Alimentar englobe neste momento o Plano Europeu de Combate ao Cancro.
“Estamos todos hoje a ouvir falar de dificuldades que temos para recuperar o tempo perdido, como se alguém esperasse que não tivéssemos na saúde os mesmos efeitos que tivemos na economia, nos eventos adiados, nos momentos de festa que não pudemos fazer. Naturalmente que ficaram coisas por fazer, a questão é como recuperar esse tempo, como o fazer rapidamente e como o fazer com qualidade e com proximidade aos nossos utentes”, salientou.
Nesse sentido, afirmou, é “muito importante que se mantenha este espírito” e que se consiga “aproveitar as oportunidades do plano do cancro como alinhamento estratégico e capacidade financeira”.
Em resposta à questão colocada no debate, Marta Temido acrescentou que “o importante não é tanto olhar para o que ficou por fazer, que é muito importante, mas é sobretudo olhar para aquilo que falta fazer”.
“Eu poderia responder que foram feitas muito mais consultas em atividade não presencial, que o Serviço Nacional de Saúde teve já a capacidade de atingir os mesmos, e melhores números, de atividade assistencial do que em 2019, mas não nos satisfazemos com isso. Queremos mesmo fazer mais isso e é isso que estamos aqui fazer”, declarou.
Stella Kyriakides disse, por seu turno, que a pandemia teve um custo para os doentes em “muitas outras doenças e o cancro foi uma delas”.
“Nós sabemos dos dados da OMS (Organização Mundial de Saúde) que não foi só em Portugal. Em todos os Estados-membros, em todo o mundo, o acesso aos serviços de rastreio, o acesso a tratamentos, às cirurgias tudo isso foi muito afetado“, disse a comissária europeia.
Por isso, defendeu Stella Kyriakides, é “tão importante” os países trabalharem juntos, para criarem “sistemas de saúde resilientes que possam responder a esta crise sanitária tão significativa para as pessoas que têm outras doenças”.