O impacto de uma dieta alimentar vegetal e a eliminação do recurso à carne animal pode ser tão grande no combate às alterações climáticas como a substituição dos combustíveis fósseis, defendeu esta quinta-feira o cientista e empresário Pat Brown.

O fundador da empresa norte-americana Impossible Foods esteve no palco da Altice Arena (Lisboa) para uma conferência na cimeira tecnológica Web Summit, onde vincou a sua “missão” de tornar regra a dieta alimentar livre de carne em vez de ser uma exceção e explicou as razões que o levaram a deixar uma carreira académica na prestigiada Universidade de Stanford.

Não tinha desejo de deixar aquele trabalho, porque era o meu trabalho de sonho. No entanto, vi que era a indústria alimentar baseada na carne animal era a mais nociva para o planeta e que ninguém estava a fazer algo sobre isso. Então larguei o meu trabalho e fundei a Impossible Foods para travar isso”, contou.

E justificou a mudança com a regeneração rápida dos ecossistemas que a transição de uma dieta de carne animal para uma dieta vegetal poderia permitir num curto espaço de tempo.

“Se podermos eliminar a necessidade de recurso a gado, começando em 2030 teríamos um período de 30 anos de emissões neutras com a transição para uma dieta vegetal. É um impacto tão grande como eliminar os combustíveis fósseis. É por isto que temos de ser bem sucedidos”, referiu.

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Segundo Pat Brown, a atividade de produzir “carne” sem recurso a animais apresenta vários desafios, embora um se evidencie: “A parte de tornar o alimento mais delicioso do que o equivalente animal é a mais complicada. E o importante não é ser apenas tão bom, é ser melhor”.

Reiterando o sucesso de vários novos produtos da sua companhia em provas cegas com consumidores em relação a produtos de origem animal, Pat Brown sublinhou que “num futuro não muito longínquo” vai surgir no mercado um bife de carne vegetal pela Impossible Foods e no futuro haverá uma Oferta Pública Inicial (IPO, na sigla em inglês), abrindo o capital da sua empresa — que conta com investidores de relevo, como Bill Gates — ao público.

Por outro lado, o fundador da empresa rebateu as críticas sobre o argumento de ser necessária muita energia para apresentar comida altamente processada quando comparada com produtos de origem animal e com uma vertente mais biológica.

“A energia usada no fabrico é mínima e irrelevante quando comparada com o equivalente na produção animal”, sentenciou, depois de anunciar que a empresa americana avançou já para a Austrália e espera chegar no curto prazo ao mercado europeu.

A Web Summit decorreu entre 1 de novembro e esta quinta-feira, em Lisboa, em modo presencial, depois de a última edição ter sido online e a organização espera cerca de 40 mil participantes, segundo revelou, em setembro, Paddy Cosgrave, presidente executivo da cimeira.

Apesar do número previsto de visitantes ser este ano cerca de menos 30 mil do que na última edição presencial, em 2019, as autoridades consideram que se trata do “maior evento de 2021” a ter lugar em Lisboa.