A história de Francisco Azevedo Coutinho, fundador e presidente executivo da Wikinight, um diretório digital de discotecas, mostra um lado diferente daqueles que por vezes é contado pelos empreendedores que por estes dias estão na Web Summit, referida como a maior conferência de empreendedorismo e tecnologia da Europa. Teve uma ideia, criou uma startup, pagou cerca de 1.200 euros para estar presente e conseguir cativar investidores. Contudo, diz que não quer voltar ao evento: “Na parte que mais interessa, a dos investidores, não compensa”.

A Wikinight foi criada em 2017 e, atualmente, além de mostrar várias sugestões de discotecas e programas de diversão noturna, permite comprar bilhetes de acesso a eventos e festas nestes estabelecimentos. Logo nesse ano, com a plataforma online ainda numa fase inicial, Francisco decidiu marcar presença neste evento ao comprar a tal entrada de mais de mil euros — que lhe garantiu um pequeno stand para apresentar a empresa e três bilhetes para todos os dias. Em resposta às questões colocadas pelo Observador, confunde as datas em que esteve no evento — “2018? Foi 2017” –, mas uma coisa diz sem problemas: não guarda as melhores memórias. “Todo o evento era muito confuso”, desabafa. “É muita gente, muitas startups, muitas empresas”, continua.

A “confusão” que relata Francisco é sentida por outros empreendedores que passam pela Web Summit com o propósito de encontrar quem lhes dê capital para fazerem crescer a ideia que têm. “Os investidores quando passavam nas bancas escondiam o cartão [o identificador com o nome que toda os participantes utilizam à volta do pescoço durante o evento], porque senão toda a gente os aborda”, diz. “Houve quem falasse connosco”, mas nada avançou, reitera. Recentemente, o empreendedor, que tem 25 anos, fez também esta crítica a outros órgãos de comunicação social, como a PME Magazine.

Houve vantagens, assume, como “a visibilidade nos jornais”, até por ser uma “nova app de diversão noturna”. No entanto, para conseguirem um contacto de investimento, através do “networking” que tanto se incentiva nesta conferência, não tiveram tanta sorte porque “está lá tudo com o mesmo objetivo” e, como “são mil cães a um osso”, há quem fique desiludido.

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Mesmo assim, em 2019, Francisco e a Wikinight voltam à Web Summit. Desta vez, a aposta só lhes custou tempo, tendo sido convidados pela Startup Portugal a participar como uma das 75 startups escolhidas no programa “Road 2 Web Summit”, que leva empresas ao evento. “Decidimos tentar novamente”, referiu. Contudo, mesmo tendo tido acesso pago, não crê que a iniciativa tenha ajudado a Wikinight, afirma.

Na altura, já tinham “um produto mais avançado” e, devido a uma parceria que conseguiram no verão com a discoteca Bliss, em Vilamoura, a empresa já estava mais consolidada economicamente. “Esse programa oferecia, além dos bilhetes, uma semana de preparação em que as startups selecionadas tinham várias palestras de formação para tirar partido da Web Summit “, conta, adiantando que “há muitas maneiras de tirar partido” do evento. Porém, desabafa: “Quando estamos lá é diferente”. “É muita coisa a acontecer ao mesmo tempo, empresas a mais, pessoas a mais” e, “em relação à quantidade de investidores para startups, não vale a pena“, afirma.

Os media que passavam [nos stands] tinham interesse em fazer um artigo ou outro, mas na parte que mais interessa, a dos investidores, não compensa”, diz Francisco Azevedo Coutinho.

Em 2019, a empresa, diz o empreendedor, já estava a dar lucro. Mesmo em 2020, quando o negócio das discotecas parou, e Francisco e a equipa de seis pessoas tiveram de adaptar o trabalho  — agora também são uma agência de marketing ligada a estabelecimentos noturnos –, conseguiu “manter os custos fixos” sem ter prejuízo. Nesse ano, não participou na edição online da Web Summit. Agora, que o evento voltou fisicamente, diz que continua a ter a mesma opinião: “Não vale a pena”.

Nem sempre houve discórdia entre o empreendedor com a Web Summit. Em 2018, o ano em que a plataforma sai da fase de testes, e é lançada oficialmente, chega a estar associada informalmente à Night Summit, o evento noturno em bares de Lisboa que a organização da conferência de tecnologia promove para os participantes, como contava à NIT. Sendo uma plataforma digital para permitir um acesso mais fácil a bares e discotecas, fazia sentido para o jovem estar ligado a esta iniciativa. Contudo, esta relação não evoluiu desde aí.

Sem máscaras e com álcool (sem ser gel). A primeira Night Summit em plena pandemia

Ao todo, Francisco e os sócios investiram na startup “150 mil euros”, revela o empreendedor. Nenhum montante chegou através de investidores que passaram pela Web Summit — foi “através de capitais próprios”, lucros que a empresa gera, afirma. Externamente ao evento, chegou a “ter conversas” com quem quisesse investir na app e plataforma, mas nunca avançou com nenhuma por, pelo menos para já, não considerar que teve essa necessidade.

Apesar de Francisco admitir saber de casos de quem tenha conseguido “tirar proveito” do evento, considera que o tempo despendido não compensa: “Pelo preço que pagamos, não temos retorno direto”, afirma. Este ano, diz que conhece algumas pessoas que estão no evento, “mas a convite de empresas”. Quanto a passar pelo Parque das Nações no futuro, será fora deste dias de Web Summit.