O governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, considerou esta sexta-feira que a manutenção de garantias de Estado às empresas portuguesas pode “encorajar ainda mais endividamento” às companhias.

“Manter o apoio às empresas através de empréstimos garantidos pelo Estado pode não ser significativo quando a economia está a recuperar, já que pode encorajar ainda mais endividamento das empresas portuguesas”, disse esta sexta-feira de manhã Mário Centeno numa intervenção na Conferência Comemorativa do 30.º aniversário da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), em Lisboa.

Para o responsável máximo do banco central, “usar os fundos para apoiar as empresas diretamente através de subvenções e subsídios permitiria o fortalecimento da situação líquida das empresas sem torná-las mais endividadas”.

Mário Centeno considerou “da maior importância a implementação de um modelo legal e jurídico efetivo de reestruturação empresarial”, e “no caso das empresas consideradas não viáveis, expedir processos de liquidação e insolvência ganha particular relevância”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O governador referiu-se ainda concretamente ao “fluxo sem precedentes de fundos para a economia portuguesa”.

Isto oferece vastas oportunidades, mas também desafios consideráveis. A falta de fundos não pode ser responsabilizada por crescimento moderado e falta de competitividade”, vincou Centeno.

Assim, o antigo ministro das Finanças assinalou que “as políticas públicas devem ser desenhadas para assegurar que estes fundos têm o melhor uso possível, aumentando o […] crescimento potencial e uma recuperação sustentável”.

Para as empresas portuguesas, os fundos europeus consubstanciam “uma oportunidade única e excelente” para se prepararem “para um mundo digital e mais verde”, afirmou.

“E esta é uma excelente oportunidade para desenvolver mercados financeiros que cuidem. Que se importem com futuro e que se importem com a sustentabilidade. Fundos públicos e privados devem juntar esforços através dos mercados de capitais para contribuir para esses objetivos, que são mundiais”, sustentou.

Falando num evento da CMVM, Mário Centeno assinalou ainda que a “pequena escala do mercado de capitais português é uma fraqueza que existe há muito“, considerando que o cenário atual “constitui um tempo preferencial para abordar” a questão.

“É difícil dizer hoje se esta é uma transição, uma série de transições, ou uma metamorfose mais profunda nos nossos sistemas económicos”, disse.