A Câmara dos Deputados chilena aprovou durante a madrugada desta terça-feira a abertura do processo de destituição do Presidente, Sebastián Piñera, pelo seu envolvimento nos chamados Pandora Papers, que expuseram os negócios secretos de 35 atuais ou antigos primeiros-ministros ou chefes de Estado.

Em causa está a venda da empresa mineira Dominga, um negócio realizado antes de Piñera assumir o cargo de Presidente. O contrato incluía uma cláusula que exigia a garantia de que uma das zonas de exploração da empresa não seria declarada reserva natural, o que acabou por ser decidido já durante a Presidência de Sebastián Piñera. A oposição acusa o governante de ter usado o cargo para benefício pessoal.

A abertura do processo foi aprovada durante uma sessão que durou 22 horas, 15 das quais ocupadas pelo deputado Jaime Naranjo, que leu um discurso de 1.300 páginas para que esta se prolongasse para lá da meia-noite. O objetivo era garantir a presença de Giorgio Jackson, um outro deputado da oposição, em quarentena após ter tido contacto com um infetado com o novo coronavírus.

Nomes de Blair e do rei Abdullah II nos negócios de líderes mundiais expostos pelos Pandora Papers

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Jackson chegou à Câmara dos Deputados às 1h22 desta terça-feira, altura em que Naranjo deu o seu discurso por terminado, possibilitando à oposição conseguir os 78 votos necessários para a aprovação. O processo seguirá agora para o Senado, onde será alvo de uma nova votação. A aprovação é o cenário mais provável.

Enquanto isso, Piñera continuará a exercer funções, mas está impedido de deixar o Chile, refere o El País.

Os membros do Governo presentes na sessão na Câmara dos Deputados consideraram que se aprovou “por um voto uma acusação constitucional manifestamente injusta”. “O que vimos aqui hoje foi um show“, disse o ministro da Presidência, Juan José Ossa, à saída, referindo-se ao discurso de 15 horas de Jaime Naranjo. Já o ministro Jaime Bellolio considerou que Naranjo falou muito, mas não disse nada. “Não apresentou nenhum argumento, simplesmente confirmou as falsidades e o absurdo daquela acusação”, citou o La Tercera.

Ossa disse esperar que “no Senado impere a sensatez”. “Mas se me pergunta o que é que sentimos, [digo-lhe] que muita tristeza por esta ferida que se fez ao país”, afirmou, em resposta às perguntas dos jornalistas.