O medicamento usado para prevenir partos prematuros e controlar as contrações das grávidas antes do momento indicado para o parto pode aumentar o risco de cancro na descendência, revela um estudo publicado na American Journal of Obstetrics & Gynecology.

Estamos a assistir aos efeitos de uma hormona sintética. As coisas que nos aconteceram dentro da barriga, ou as exposições in utero, são fatores de risco importantes para o desenvolvimento do cancro muitas décadas após o nosso nascimento”, alerta a primeira autora do estudo, Caitlin C. Murphy.

O fármaco sintético continua a ser usado para substituir o efeito da progesterona — 17-OHPC (caproato de 17 alfa-hidroxiprogesterona) — apesar de já terem sido levantadas algumas questões em relação à segurança e à eficácia de curto prazo, recorda a equipa de Caitlin C. Murphy, investigadora na Escola de Saúde Pública da Universidade do Texas (Houston, Estados Unidos).

O regulador do medicamento (FDA, Food and Drug Administration) já propôs, em outubro de 2020, que o medicamento fosse retirado do mercado norte-americano.

A equipa da Universidade do Texas, agora, recorreu a uma base de dados com mais de 18.700 pares de mães e respetivos bebés, de gravidezes entre 1959 e 1966, e ligou-a aos registos de cancros em 2019.

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Em mais de mil cancros, entre os zero e os 58 anos, 234 foram em indivíduos expostos ao 17-OHPC durante a gravidez. O risco de cancro — qualquer um — foi maior para todos os bebés cujas mães receberam a injeção do medicamento no primeiro trimestre da gravidez. E o risco de cancro tanto maior quanto maior o número de injeções.

A descendência exposta, durante a gravidez, teve cancro na idade adulta com o dobro da frequência da descendência que não tinha sido exposta ao fármaco — 65% dos cancros aconteceram em adultos com menos de 50 anos”, refere o comunicado de imprensa da universidade.

O risco de cancro colo-retal, do pâncreas e cancro pediátrico no cérebro foi maior nos indivíduos expostos ao medicamento durante o primeiro trimestre quando comparados com aqueles cujas mães não tomaram a droga.

Quando a exposição aconteceu no segundo ou terceiro trimestre, aumentou o risco de cancro no futuro para os rapazes, mas não para as raparigas.

O impacto do medicamento no futuro da descendência era pouco conhecido e o objetivo do estudo foi trazer mais informação sobre o assunto. Os autores recomendam um uso cuidado do fármaco dado o potencial de aumento do risco de cancro.