A luta contra o cartão do adepto, revogado por proposta da Iniciativa Liberal (IL), “só podia ter este resultado”, disse esta quarta-feira à Lusa a presidente da Associação Portuguesa de Defesa do Adepto (APDA), Martha Gens.

“Quando a luta é feita de uma forma transparente, sem lóbis, sem patrocínios, sem causas a defender, [então] é uma luta digna, muito justa e só podia ter este resultado”, regozijou-se a representante dos adeptos, “a festejar”, minutos após a decisão do parlamento.

Vários elementos da APDA, que se opôs desde o início à lei que implementou o cartão, estiveram na Assembleia da República a assistir à votação, a convite da própria IL, e ficaram “incrédulos”, assumiu Martha Gens, quando perceberam que a proposta tinha mesmo sido aprovada.

Isto tem muito de nós. Somos os únicos intervenientes que não obedecem, que são completamente independentes e que têm toda a força para contestar de uma forma muito legítima aquilo que é mais profundo em si, que é a sua própria liberdade”, assumiu, de forma emocionada.

A APDA manifestou-se contra o cartão do adepto mesmo desde antes da sua aprovação e lutou contra a sua implementação, inclusivamente por meios legais, interpondo uma providência cautelar, rejeitada em fevereiro deste ano pelo Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa.

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A “liberdade” dos adeptos para apoiarem as suas equipas sem restrições foi uma bandeira ao longo da luta e a sua recuperação vale “bem mais do que vários 20 euros”, o preço que era necessário pagar para obter o cartão e que Martha Gens não crê que os quase 3.000 adeptos que o pagaram vão pedir de volta.

“Acho que esses adeptos estão mais contentes com o fim da lei do que outra coisa, não querem propriamente saber dos 20 euros. O fim desta legislação paga bem mais do que vários 20 euros. A felicidade de não termos de pensar que temos as nossas liberdades completamente restringidas vale muito mais do que 20 euros”, concluiu Martha Gens.

O projeto de lei proposto pela IL para revogar o cartão do adepto foi esta quarta-feira aprovado pelo parlamento, em sessão plenária, na Assembleia da República, cerca de três meses após a implementação efetiva.

A votação na generalidade, que contou com 202 deputados inscritos, teve a abstenção de PSD e PS, à exceção dos deputados socialistas Pedro Bacelar de Vasconcelos, Isabel Moreira, Rosário Gamboa, Tiago Barbosa Ribeiro, André Pinotes Batista, Joana Lima, Carlos Braz e Constança Urbano de Sousa, que votaram a favor, como os restantes partidos com assento parlamentar.

Proposta para pôr fim ao Cartão do Adepto aprovada na Assembleia da República

O cartão do adepto foi, efetivamente, implementado nesta temporada, depois de a interdição de público nos recintos desportivos, devido à pandemia de Covid-19, ter adiado a aplicação da portaria, publicada em 26 de junho de 2020.

Este documento, que tem custo de 20 euros e validade de três anos, visa identificar os adeptos que pretendam ocupar as zonas dos estádios habitualmente ocupadas pelas claques dos clubes.

Para a sua obtenção são requeridos nome completo, morada, documento de identificação, número do documento de identificação, data de nascimento, número de identificação fiscal, endereço de correio eletrónico, número de telefone e promotores de espetáculos desportivos que apoia.

Em causa estava, ainda de acordo com a legislação, “controlar e promover as boas práticas de segurança e combater ao racismo, xenofobia e intolerância nos eventos desportivos”.

De acordo com o portal dedicado ao documento, foram emitidos até esta quarta-feira 2.949 cartões do adepto e registados 111 promotores de eventos.

Após a votação, na generalidade, o assunto terá de ser votado na especialidade e em votação final global.