A história
Há precisamente 20 anos abriu em Amarante, junto às margens do rio Tâmega, a Casa da Calçada, um palácio do século XVI que se converteu num hotel de charme. O Largo do Paço é um dos restaurantes do hotel por onde já passaram os chefs José Cordeiro, Ricardo Costa, Vítor Matos, André Silva e, atualmente, Tiago Bonito, e que em 2004 alcançou uma estrela Michelin, distinção que mantém até hoje.
A família Mota, proprietária do espaço em Amarante, tinha o desejo antigo de abrir um novo conceito no centro da cidade. “A família tem raízes no Porto e a maioria dos nossos clientes também são daqui, fazia todo o sentido apostar na cidade e marcar presença”, explica ao Observador, António Almeida, responsável pelo novo Real by Casa da Calçada. Em 2019, o grupo familiar adquiriu o famoso café Garça Real, nome que fez questão de manter na nova assinatura, e aprimorou o conceito até 2021. Uma confeitaria, um restaurante de fine dining, uma esplanada, um cocktail bar e uma sala de eventos ganharam forma entre janeiro a julho deste ano, abrindo as portas oficialmente este mês.
O espaço
Espelhos imponentes, mármore nos tampos das mesas, elementos em madeira e detalhes em dourado pincelam a decoração do espaço idealizado pelo arquiteto portuense Paulo Lobo. Com uma área total de 400 metros quadrados, o Real by Casa da Calçada tem direito a duas portas viradas para a rua, uma dá acesso à cafetaria, a outra é a entrada do restaurante, e cá fora a esplanada é comum aos dois conceitos.
“Na cafetaria quisemos manter o conceito original e não deixar de servir a clientela habitual, que mora ou trabalha aqui perto. Mantivemos o quiosque com os jogos de apostas e o ambiente mais descontraído”, sublinha o responsável António Almeida, acrescentando que esta área tem capacidade para 30 pessoas. Na porta ao lado, encontramos o restaurante e o cocktail bar numa decoração mais elaborada, onde saltam à vista a garrafeira da casa, seja refrigerada ou distribuída nas prateleiras, a cozinha de finalização, a chef’s table redonda ou a claraboia no teto, que pode ser aberta com um simples clique.
No piso inferior, o restaurante tem uma sala privada e versátil com capacidade para 40 pessoas. O espaço tem direito a um sistema de som individual, um projetor e uma tela e pode ser palco de eventos corporativos, reuniões ou refeições. “Percebemos que os hotéis na baixa não têm este tipo de oferta”, recorda o responsável, adiantando que o espaço tem um menu exclusivo para grupos.
A comida
A cozinha é comandada pelo chef Hugo Rocha, que já passou pela Casa da Calçada, em Amarante, mas também por restaurantes de alta cozinha como o Vinum, em Vila Nova de Gaia, ou o Antiqvvm, no Porto. É um dos finalistas do Chef Cozinheiro do Ano, o maior e mais antigo concurso nacional de cozinha para profissionais, e apesar de ter um percurso ligado a projetos elaborados e com estrela Michelin, o desafio de abraçar um conceito mais simples e descontraído agradou-o. “Era exatamente o que procurava, mais criatividade e menos formalismos. Queria fazer uma coisa diferente, com menos amarras e menos regras”, confessa ao Observador.
Sem o peso de alcançar prémios ou distinções, o chef portuense elaborou uma carta baseada na gastronomia mediterrânica portuguesa, bastante abrangente e com apenas duas versões por ano. A lista de ingredientes é maioritariamente nacional e na confeção Hugo Rocha volta às suas raízes sempre que pode, mas fá-lo com um toque contemporâneo e arrojado, capaz de desconstruir receitas tradicionais adicionando novos sabores, texturas e empratamentos.
Na cafetaria toda a pastelaria é feita dentro de portas e no menu não faltam os clássicos pastéis de nata ou de feijão, rissóis, empadas ou queijadas. Há tapas frias, como o taco de atum com maionese de wasabi e sementes de sésamo ou a burrata com tomate confitado e presunto, mas também opções quentes, como os croquetes de alheira da região do Barroso com gema de ovo curada, ou o hambúrguer de carne de novilho, moído na casa, servido no meio de duas fatias de pão de massa brioche de fermentação lenta com cebola confitada, bacon e queijo cheddar. Nos universo do doces, Hugo Rocha aproveita as sobras de croissants da pastelaria para fazer um pudim de pão com gelado de canela ou matar saudades dos meses em que trabalhou em Barcelona com uma mousse de chocolate e avelã com azeite e flôr de sal.
Na carta do restaurante o chef destaca nas entradas a barriga de atum com salada russa e ovas de ouriço do mar, a salada de bacalhau com grão de bico e tomate coração de boi, o creme de castanhas com escabeche de coelho ou as lulas grelhadas com manteiga de cabra e alcaparras. Nos peixes, o polvo à bordalesa faz-se acompanhar com arroz de forno e coentros, uma das memórias de infância do cozinheiro, e o famoso bacalhau à Zé do Pipo, com puré, picles e maionese, apresenta-se numa versão diferente com cenouras baby, um caldo escuro de cebola e óleo de salsa.
No segmento das carnes, o chef chama a atenção para o novilho nacional com tubérculos assados e mostarda ou a codorniz recheada com salsicha, cogumelos, acelgas e chalotas. “O recheio não é estático, daqui a umas semanas posso adicionar trufa negra, vamos andando ao ritmo das estações”, revela o Hugo Rocha, acrescentando que as sugestões vegetarianas se centram sobretudo no arroz carolino caldoso e no caril de grão de bico com abóbora. Para fechar a refeição há rabanadas com citrinos e gelado de queijo Stilton, arroz doce com laranja bergamota e gelado de canela ou uma tarte de maçã desconstruída, com um recheio de puré de maçã golden caramelizada, chantilly abaunilhado aromático e perfumado e apontamentos de maçã granny smith crua.
Durante a semana ao almoço há um menu executivo de 14€ por pessoa, que inclui entrada, prato principal, bebida e café, numa oferta que se renova a todas as semanas, o menu para grupos conta com algumas proteínas presentes na carta do restaurante e nesta época (quase) festiva está também disponível um menu especial de Natal, com todos os pratos típicos da consoada, do farrapo velho ao perú recheado. Já na chef’s table cabem cinco pessoas e ao jantar está disponível um menu de degustação, de 60€ por pessoa, composto por cinco pratos e harmonização de vinhos, onde o chef faz questão de explicar cada detalhe da receita. “Escolho o menu no momento, consoante os gostos e a intolerâncias do cliente. Tento que sejam cinco momentos o mais personalizados possível.”
Um dos pontos fortes do Real by Casa da Calçada é a carta de vinhos, que conta com 100 referências nacionais, do Douro ao Alentejo, à exceção dos espumantes franceses. “Procuramos incluir vinhos de jovens produtores que não se encontram facilmente nas superfícies comerciais”, adianta António Almeida, o responsável do espaço. A aposta nas bebidas recai ainda nos cocktails, dos mais clássicos aos de autor, e o bar quer tornar-se uma referência na cidade no que toca ao rum. “Queremos fugir do gin e apostar no rum, temos mais de 30 referências de rum, muitos delas não existem cá, e acreditamos que é uma bebida versátil e fácil de beber”, avança, acrescentando que os brindes ao fim de semana contam com a música de um Dj, das 19h30 às 2h.
O que interessa saber
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Nome: Real by Casa da Calçada
Abriu em: soft opening em setembro, abertura oficial novembro de 2021
Onde fica: Rua do Bonjardim, 185 (Porto)
O que é: um restaurante, uma cafetaria e uma sala de eventos
Quem manda: António Almeida
Quanto custa: preço médio de 35€/pessoa
Uma dica: junte quatro amigos e aventure-se no menu de degustação com harmonização vínica
Contacto: 22 014 4470/91 255 1909
Horário: Café Bistro: terça a sábado, das 7h30 às 19h; Restaurante: das 12h30 às 15h; das 19h30 às 23h; Cocktail Bar: sextas e sábados, das 19h30 às 2h.
“Cuidado, está quente” é uma rubrica do Observador onde se dão a conhecer novos (e renovados) restaurantes.