O Benim recebeu esta quarta-feira as 26 obras dos tesouros reais de Abomei saqueados no século XIX pelas tropas coloniais de França. O momento teve direito a uma cerimónia e vários momentos de celebração, que reuniram milhares de habitantes do país africano nas ruas.

“Convenci-me agora que estes artefactos realmente regressaram ao meu país. Estou quase a chorar”, contou Ousmane Agbegbindin à Agence France Press, um dos presentes no local, que acrescentou que o facto dos “tronos dos seus antecessores, os seus sapatos e o seus objetos” estarem no país “tem um efeito” que não consegue descrever.

As obras estiveram 130 anos no estrangeiro, após a transferência de propriedade ter sido na quarta-feira formalizada no palácio do Eliseu, pelos ministros da cultura dos dois países, Roselyne Bachelot e Jean-Michel Abimbola.

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“É um momento simbólico, comovente e histórico, que foi muito aguardado e inesperado”, disse o Presidente francês, Emmanuel Macron, que em 2017 se comprometeu a restituir o património africano em França.

“Todo o povo do Benim vos exprime a sua gratidão”, agradeceu o homólogo beninês, Patrice Talon, que se deslocou a França para participar na cerimónia. No entanto, o chefe de Estado africano deixou um aviso: “A restituição das 26 obras é apenas uma etapa”.

“Como querem que o meu entusiasmo seja total quando obras como o Deus Gou ou a tábua de adivinhação do Fâ continuam aqui em França, para grande prejuízo dos seus beneficiários?”, disse Talon, prometendo regressar para outras restituições.

“Além desta restituição, vamos prosseguir o trabalho”, prometeu por seu lado Macron.

Entre as obras agora restituídas, que estavam expostas no museu parisiense do Quai Branly, figuram estátuas totem do antigo reino de Abomei, assim como o trono do rei Béhanzin, saqueados do palácio de Abomei pelas tropas coloniais francesas em 1892.

As obras são esperadas com emoção em Cotonou, onde serão submetidas a dois meses de “aclimatização” às novas condições de clima e higrometria, antes de serem expostas durante três meses na presidência beninesa.

Irão de seguida para o antigo forte português de Ouidah e para a casa do governador, locais históricos da escravatura e da colonização europeia, enquanto se aguarda a construção de um novo museu em Abomei.