A Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) contesta as críticas da Fesaht aos salários e à falta de valorização dos trabalhadores, afirmando que estão disponíveis para negociar e que aguardam reunião na DGERT para a revisão da contratação coletiva.

No seguimento do protesto de esta quinta-feira da Fesaht – Federação dos Sindicatos da Agricultura, Alimentação, Bebidas, Hotelaria e Turismo de Portugal para pedir a revisão do Contrato Coletivo de Trabalho, a AHP veio esclarecer que entre a associação e a federação de sindicatos este contrato existe desde 1983, tendo sido a última revisão em 2008.

“Foi dado início à revisão desse contrato em 2012, no entanto, ao fim de anos de tentativas de aproximação, foi reconhecido que não era possível chegar a consenso e recorreu-se ao mecanismo previsto na lei: mediação na DGERT, entidade do Ministério do Trabalho. Também aí o processo está a correr desde 2016, tendo sido interrompido durante estes últimos quase dois anos, em razão da pandemia”, começa por explicar a AHP em comunicado, acrescentando que a celebração de um Contrato Coletivo de Trabalho exige muito mais do que a revisão das tabelas salariais”, uma das reivindicações da Fesaht.

Diz a AHP que os salários que estão a ser praticados na hotelaria “são já superiores aos fixados nas tabelas dos sindicatos” e que as “condições e termos do exercício da função são igualmente valorizadas pelos trabalhadores e empregadores. É aí que se pretende chegar: equilíbrio e valorização das profissões turísticas”.

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Meia centena de trabalhadores protestaram esta quinta-feira junto ao congresso da associação hoteleira que decorre em Albufeira, contestando a falta de mão de obra que o patronato diz sentir e reivindicando a revisão da contratação coletiva.

Numa altura em que vários responsáveis do setor turístico, e especificamente hoteleiro, apontam a falta de mão de obra com que se deparam no setor como um dos constrangimentos à retoma, o porta-voz da Fesaht afirma que a dificuldade se prende com as condições oferecidas e baixos salários praticados.

“A associação precisa de rever o contrato coletivo de trabalho”, afirmou Francisco Figueiredo, da Fesaht, aos jornalistas, no protesto junto ao local onde decorre o congresso da AHP.

“Dados oficiais, e a informação que circula na comunicação social, apontam que 80% dos trabalhadores dos hotéis e demais estabelecimentos de alojamento recebem apenas o salário mínimo nacional e trabalham ao fim de semana, aos feriados. É um trabalho muito penoso para os trabalhadores e, por isso, é natural que muitos trabalhadores que foram empurrados violentamente nesse período da pandemia” não queiram agora voltar a trabalhar no setor, afirmou o sindicalista.

“A AHP está sempre disponível para negociar, pelo que é falso que se recuse a fazê-lo, como afirma a Fesaht. A associação encontra-se neste momento a aguardar a marcação da reunião com o mediador do Ministério do Trabalho, onde terão de ser ponderadas se e como poderão prosseguir as negociações”, refere a associação hoteleira ainda no comunicado de reação ao protesto.

O que nós estamos a dizer às associações patronais e a esta em particular [Associação dos Hotéis de Portugal, AHP] é que precisamos negociar a revisão do contrato coletivo de trabalho, mantendo os direitos dos trabalhadores e oferecendo salários dignos”, reforçou no protesto Francisco Figueiredo.

Garante o sindicalista que “nenhuma associação até hoje [quinta-feira] iniciou o processo de negociações do contrato coletivo de trabalho”, mas que se isso acontecer e se “respeitarem os direitos, o horário de trabalho, não faltará trabalhadores”.

“O que pretendemos é que a Associação dos Hotéis de Portugal, que não cumpre o contrato coletivo de trabalho celebrado com a Fesaht em 2008, o cumpra e que o faça cumprir junto dos seus associados, porque muitos patrões não cumprem os dois dias de folga, não pagam feriados a 200%, não pagam as horas extras”, realça ainda, acrescentando que “ninguém aguenta com o salário mínimo de 665 ou 670 euros”, concluiu.

O presidente da AHP, Raul Martins, disse na quarta-feira que a realização de um estudo sobre a escassez de mão de obra no setor aponta para a falta de 15 mil trabalhadores nos hotéis.

Na conferência de imprensa que antecedeu o início dos trabalhos do 32.º Congresso Nacional da Hotelaria e Turismo, promovido pela AHP, e que vai decorrer até sexta-feira em Albufeira, Raul Martins explicou que o número tem origem numa estimativa com base nas conclusões preliminares de um estudo que a associação levou a cabo junto dos associados e que irá apresentar após o congresso.

Em 25 de setembro, o presidente da Confederação do Turismo de Portugal admitiu, em entrevista à Lusa, que o problema de falta de recursos humanos existe, porque até estava a ser ‘sexy’ trabalhar no setor, mas com a pandemia “tudo ficou congelado”.

Em 18 de outubro, o presidente do Vila Galé afirmou também à Lusa que o grupo continua a debater-se com a falta de recursos humanos na hotelaria, construção e agricultura, estando a prever contratar 300 jovens à procura do primeiro emprego e trazer 150 trabalhadores do Brasil.