O candidato a secretário-geral da UGT José Abraão considera que o atual momento político prejudica os trabalhadores, porque atrasa a resolução de vários problemas, e defendeu que alguns podem ter resposta antes das eleições, como o aumento do salário mínimo.

“É mais um problema para os trabalhadores, porque vimos adiadas algumas das propostas que estavam no Orçamento do Estado (OE), apesar de este ser insuficiente, isto é mais um compasso de espera que pode atrasar algumas coisas, (…) mas espero que aquilo que eram compromissos que o Governo assumiu em sede de Concertação [Social] ou em sede parlamentar possam ser ainda cumpridos antes das eleições“, disse José Abraão em entrevista à agência Lusa, referindo o aumento do salário mínimo nacional e a correção das injustiças da tabela remuneratória única da função pública.

O secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública (SINTAP) e da Federação dos Sindicatos da Administração Pública (FESAP), José Abraão, que no sábado disputa com Mário Mourão a liderança da tendência sindical socialista (TSS) da UGT, considerou, no entanto, que o chumbo do OE no parlamento, a dissolução da Assembleia e realização de eleições legislativas no final de janeiro são “a democracia a funcionar”.

Abraão e Mourão estão em campanha para a liderança dos socialistas da UGT

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O sindicalista manifestou esperança de que “o compasso de espera até às eleições possa criar um ambiente melhor” para que depois do ato eleitoral de janeiro possa ser aprovado “um OE melhor”, com “uma visão diferente” relativamente ao futuro dos portugueses, que lhes permita melhores condições de vida.

A FESAP tinha marcado uma greve para sexta-feira contra a desvalorização dos salários e carreiras da administração pública, mas desmarcou-a na semana passada face ao cenário de dissolução da Assembleia da República, por entender que “a mobilização dos trabalhadores deve ser aproveitada para um momento mais adequado”, nomeadamente para a discussão do futuro OE, caso não seja melhor do que aquele que foi chumbado.

Fesap desconvoca greve de dia 12

Abraão reafirmou a necessidade de crescimento dos salários em geral, de uma política fiscal mais justa e melhores oportunidades de trabalho para os jovens.

“Tem de haver uma clara melhoria dos salários, não me canso de dizer que temos que abandonar esta política de baixos salários”, defendeu, acrescentando que a UGT e o seu futuro secretário-geral têm a responsabilidade de continuar a lutar pela valorização dos salários e pelo desagravamento fiscal.

Para o sindicalista, “não é comportável continuar a insistir na penalização dos rendimentos do trabalho”.

O crescimento dos salários e o desagravamento fiscal são duas formas de reduzir as desigualdades no país, segundo José Abraão.

Salientou, por isso, as vantagens do diálogo social e da contratação coletiva para melhorar as condições de vida e de trabalho.

“Estaríamos pior se não fosse a negociação coletiva, mas a UGT pode fazer mais”, disse.

Para enfrentar os novos desafios do movimento sindical e do mercado de trabalho, José Abraão, que pretende promover o diálogo bipartido e tripartido, quer apostar na renovação e na formação e qualificação de quadros sindicais.

O presidente da TSS eleito no congresso de sábado será, por inerência, o candidato a secretário-geral da UGT, que será eleito no XIV congresso da central sindical, previsto para abril de 2022, sucedendo então a Carlos Silva.

Esta é a primeira vez que existem duas candidaturas à liderança da TSS, desde a criação da UGT, há 43 anos.

José Abraão é secretário-geral da FESAP e do SINTAP desde 2013 e é membro da comissão politica nacional do PS por indicação da TSS.