A Volkswagen vai construir uma fábrica dedicada exclusivamente à produção de eléctricos. Será uma obra do zero, sem os habituais constrangimentos decorrentes das adaptações de fábricas antigas e também sem desculpas para não atingir a meta a que se propõe: produzir anualmente 250 mil carros. A localização também está definida: será em Wolfsburg, cidade alemã onde tudo orbita à volta da Volkswagen.

A informação foi avançada pelo próprio CEO da marca, Ralf Brandstätter, com a ressalva de que a decisão final ainda não foi tomada, o que está dependente da análise do orçamento do grupo para os próximos cinco anos. Só depois disso, possivelmente no próximo mês, é que o projecto para a nova fábrica receberá luz verde por parte do conselho de supervisão da Volkswagen AG.

Para a aprovação concorrerão argumentos como a necessidade de o grupo alemão dar uma resposta à concorrência à altura da sua dimensão, exercício em que até agora tem ficado aquém das expectativas dos próprios dirigentes. A começar por Herbert Diess, a voz com mais poder no seio do conglomerado, mas também a mais crítica. “Sentimos que a concorrência de antigos e de novos rivais está a aumentar cada vez mais e precisamos de responder a isso em força”, confessou Brandstätter aos jornalistas, citado pela Bloomberg.

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Recorde-se que se estranhou a postura crítica e o facto de se terem tornados públicos os avisos que Herbert Diess e Brandstätter deixaram numa reunião interna com 120 quadros de topo do conglomerado alemão, em vésperas do arranque da actividade da Gigafábrica Berlim da Tesla – que era suposto iniciar a produção em Novembro, mas voltou a ser vítima de atrasos. Primeiro, soou o alerta de que a marca de Elon Musk era muito mais rápida e eficiente a produzir, depois ecoou o aviso de que estariam 30.000 postos de trabalho em risco, caso a VW não conseguisse acompanhar o ritmo de Gruenheide [a localização da Gigafábrica alemã]. E, por fim, um inédito convite para Elon Musk participar remotamente num encontro da VW que era suposto galvanizar os intervenientes para a importância de ser eficaz na transição eléctrica.

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Esta assunção de que algo está a falhar na estratégia do grupo automóvel que mais fortemente tem investido na mobilidade eléctrica causou um enorme desconforto interno. Mais ainda, o reconhecimento de que a VW demora o triplo do tempo para produzir um veículo em Zwickau, quando a Tesla o fará apenas em 10 horas. E quando Musk anunciou que a operação de Berlim lhe iria permitir ter uma cadência de um veículo a cada 45 segundos, os ânimos não deverão ter serenado.

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Segundo as declarações de Brandstätter, a meta da VW aponta para 10 a 12 horas, sendo que Diess já afirmou que seria possível, em 2022, baixar das actuais 30 horas para 20 horas por veículo eléctrico. Tudo indica que o caminho passará por reduzir as opções dos diferentes modelos, reduzindo as variáveis da produção.

Ainda segundo o CEO, em 2027, duas das quatro linhas de montagem de Wolfsburg deverão ser adaptadas para produzir apenas eléctricos. É desta instalação que saem os bestsellers a combustão da marca, Golf e Tiguan, a que se juntará um SUV de sete lugares.

O projecto Trinity, nome de código que vai começar por originar um sedan eléctrico, que será depois seguido por outros veículos do grupo, deverá funcionar como o porta-estandarte da VW. Espera-se que a produção arranque em 2026, em Wolfsburg.