Os alunos espanhóis que tirarem negativas vão poder concluir o ensino secundário. Poderão também candidatar-se ao ensino superior, mas nesse caso apenas poderão reprovar a uma disciplina. Estas são duas das disposições do novo Decreto Real de Avaliação, Promoção e Titulação, divulgado pelo ministério da Educação esta terça-feira. O caso está a gerar polémica em Espanha com comunidades autónomas a dizer que vai “contra o mérito”.

“A cultura do esforço não corre nenhum risco com esta nova norma. Promove-se o esforço baseado na motivação, não no castigo”, descreveu, de acordo com o El Mundo, Pilar Alegría, ministra da Educação, na apresentação do decreto. O objetivo passa por diminuir o número de estudantes que reprovam em Espanha por ano.

Segundo a norma, serão os próprios estabelecimentos escolares a decidir se os alunos que reprovam a algumas disciplinas podem ou não concluir secundário. Já no fim do ano letivo em vigor, haverá um conselho de turma composto por professores que deliberará se os estudantes finalizam o ensino obrigatório, tendo em conta o seu percurso escolar e se alcançaram “o grau adequado de aquisição das competências correspondentes”. Contudo, o governo espanhol não deu qualquer pista sobre em que consiste o “grau adequado” — podendo estar sujeito a critérios subjetivos.

Com esta medida, o ensino espanhol passa a guiar-se não só pelas notas para decidir se um aluno passa de ano ou não, almejando melhorar as taxas de aprovação de estudantes reprovados, das maiores da União Europeia.

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Pilar Alegría também mencionou os dados espanhóis, referindo que 30% dos alunos com 15 anos já reprovaram de ano pelo menos uma vez. “As taxas de abandono escolar estão a ser engrossadas com esta percentagem de estudantes”, argumentou a ministra da Educação, salientando que deve haver um sistema “baseado na confiança nos professores”, na “avaliação contínua” e no “trabalho colaborativo nas equipas dos docentes”.

Algumas comunidades autónomas contestam medida: “Diminui o nível e a exigência”

Com pendor nacional, a medida não foi bem recebida por cinco comunidades autónomas espanholas: Andaluzia, Castela e Leão, Galiza, Madrid e Múrcia, que frisam que a medida “baixa a exigência”.

A Conselharia de Educação de Madrid assinalou ao El Mundo que “dentro das competências” legais que possui vai fazer de tudo para que “o decreto real não se aplique”. O motivo? “É um ataque direto a um dos pilares do sistema educativo madrileno — como é o mérito e o esforço dos alunos.”

Também a Galiza já anunciou que “explorará qualquer possibilidade jurídica que permita preservar a cultura do esforço e a qualidade como sinais de identidade”. Castela e Leão fará o mesmo, argumentando que para completar o secundário “não faz sentido” reprovar a uma disciplina” porque “todas contribuem para a aquisição das competências necessárias”.

Por fim, a comunidade de Múrcia deixa duras críticas ao governo de Pedro Sánchez, descrevendo a medida como um “improviso”, destacando que não “existe segurança jurídica nas decisões que se tomaram”.