A dada altura, no ecrã gigante da sala de cinema, uma reunião familiar no Vale da Amoreira, na Moita, explode de alegria. Avós, pais, irmãos, tios e primos abraçam-se, rebentam tubos de confetti e não escondem nem o sorriso nem as lágrimas que teimam em cair ao mesmo tempo. “Só queria abraçá-lo”, ouve-se. Afinal, do outro lado do mundo e em plenos Estados Unidos, um dos elementos da reunião familiar acabou de se tornar o primeiro português na NBA. Neemias Queta tinha acabado de se tornar o primeiro português na NBA.

O momento, perfeitamente imaginável, é o clímax de “Dream Big: Neemias Queta”, um documentário sobre o jogador de basquetebol que foi apresentado esta terça-feira no Campo Pequeno. O filme, que tem cerca de meia-hora, é um salto constante entre o dia em que Queta foi o 39.º a ser escolhido no draft da NBA e o crescimento do atleta, desde os tempos em que ainda achava que queria ser jogador de futebol até ao salto para os Estados Unidos.

O documentário conta com testemunhos de toda a família de Neemias Queta — incluindo da mãe, que estava nos Estados Unidos na altura do draft –, dos amigos de infância, dos primeiros treinadores no Barreirense e no Benfica e também do olheiro da Utah State University que veio a Portugal recrutá-lo em 2018 e do treinador da equipa da faculdade. Os pormenores são vários: Neemias queria ser jogador de futebol mas tinha “dois pés esquerdos”, tinha a alcunha de “esfregona” no Barreirense por passar mais tempo no chão do que em pé nos primeiros anos e passou pela fase mais difícil da carreira quando se lesionou no joelho ao serviço da Seleção Sub-20.

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Entre os convidados para a apresentação do filme, para além da família e de atletas do Benfica como as judocas Bárbara Timo e Rochele Nunes, estava Carlos Barroca, antigo treinador e atual comentador e vice-presidente da NBA para a Ásia. “Era a pergunta que toda a gente fazia: ‘Quando é que temos alguém na NBA?’ A resposta está aí, é o Neemias. Mas não devemos esquecer também a Ticha Penicheiro e a Mary Andrade e o que fizeram na WNBA para inspirar outros”, começou por dizer Barroca, comentando depois o facto de Neemias Queta estar ainda a representar os Stockton Kings, a equipa de desenvolvimento dos Sacramento Kings.

Era um sonho, tornou-se um objetivo, já é história: Neemias Queta é o primeiro português na NBA

“Ele é um reflexo de humildade, de determinação e de um crer improvável. Isso vai ser determinante para poder lá chegar, não vai ser imediato mas tem habilidade para chegar lá. Este cenário agora é o ideal para se desenvolver, é fantástico. A NBA está muito perto mas ao mesmo tempo está um bocadinho longe. Ali é o cenário ideal para aprender, para desenvolver as suas capacidades atléticas. Este é o plateau certo para o desenvolvimento dele (…) Ele é um grande exemplo, tem de ser, e destaca-se pela humildade, pela determinação. É alguém com valores muito bons e quando é assim só precisa de ser ele próprio para ultrapassar isso”, terminou o antigo treinador.

Já André Braz, o realizador, garantiu que as pessoas vão ficar “ainda mais apaixonadas” por Neemias Queta depois de assistirem ao documentário. “O Neemias é uma pessoa que tem uma personalidade muito cativante. Ele é de uma doçura extrema, de uma grande humildade. E tudo isto, com 2,13 metros, torna-se muito mais impactante. Ele tem uma história muito bonita, vem de um contexto bastante adverso, luta por um sonho e concretiza-o e acho que é isso é inspirador para todos nós”, disse Braz, garantindo que o jogador tem “noção do impacto” que o facto de ter chegado à NBA vai ter nos mais jovens.

“Agora ninguém te trava!” Neemias Queta, “o gigante” do Vale da Amoreira que levou o bairro para a NBA

“Acho que tem muita noção do impacto que isto vai ter para os miúdos que perseguem o sonho de serem jogadores da NBA. Nas primeiras conversas que tive com ele sobre este documentário ele disse-me que um dos grandes objetivos dele era esse, inspirar outros miúdos a acreditarem no sonho e a lutarem por ele, a acreditarem que é possível. Ele tem plena consciência disso”, acrescentou o realizador.

Também Ben Queta, primo de Neemias que marca presença no filme, esteve no Campo Pequeno e lembrou que o jogador é “um exemplo de pessoa de ser exemplo de profissional e atleta”. “A base dele é mesmo a família, foi isso que o ajudou e que o apoiou desde o início e até agora. Essa é a base fundamental que ficará com ele para sempre. É uma pessoa como qualquer outra. A diferença do Neemias para as outras pessoas, se calhar, é a educação que teve e a dedicação que tem tido ao projeto a que se propôs desde o início. E é isso que tem feito a diferença”, explicou.