É um dos curadores mais importantes do mundo. O seu percurso pessoal determinou o caminho de muita da arte moderna que se faz no mundo ocidental desde os anos 90 do século passado à atualidade. O seu arquivo monumental, doado à Fundação LUMA, em Arles, França, está agora no Porto, na biblioteca do Museu de Serralves, onde ficará por mais oito meses, distribuído por também oito capítulos de publicações e documentos, ensaios, livros, entrevistas, fotografias e vídeos.

Hans Ulrich Obrist, 53 anos, natural de Weinfelden, na Suíça, define novas formas de pensar a arte, concebendo novas plataformas para colocar o artista e o seu trabalho. E essa sua capacidade de transformar qualquer espaço num bom espaço para mostrar a obra artística e para que qualquer um de nós encontre a arte no seu dia a dia fez dele um homem com um poder diferente perante uma ideologia chamada democracia.

Um dos seus trabalhos mais extraordinários aconteceu em 1991, quando resolveu tirar da cozinha do seu apartamento grande parte dos objetos tradicionais para arranjar espaço para colocar uma série de obras de artistas seus amigos. A exposição, “World Soup: Küchenausstellung” foi o pontapé de saída para uma carreira fulgurante na observação e entendimento da arte do seu tempo.

Seguiu-se, dois anos depois, “Hôtel Carlton Palace”, outra mostra inusitada, desta vez no quarto de hotel que alugara em Paris. 1993 foi ainda o ano da sua primeira grande exposição. Abria caminho para uma bolsa da Fundação Cartier e para o Museu de Arte Moderna de Paris, onde expôs “Migrateurs”, uma longa série de mostras individuais, cujas peças de arte se misturaram com a estrutura orgânica do edifício e surpreendiam os visitantes onde estes menos esperavam.

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Este foi um início hoje com 30 anos, um tempo cheio de interpretações e entendimentos, de conhecimento puro e duro mas também de muita empatia com “as mais importantes criaturas do mundo” numa “Torre de Babel de vozes” por ele entrevistadas num currículo que conta com mais de mil conversas gravadas e transcritas com artistas, cientistas, historiadores, cineastas.

Um tempo de contacto ainda com o artista plástico Joseph Grigely, que pautou a sua atuação pelo cuidado exímio do arquivo de Hans Ulrich Obrist, organizando-o e dispondo-o em termos expositivos. Ao mesmo tempo, o Whitney Museum, o MoMA, o Palais de Tokyo, e muitos dos grandes museus do mundo convidavam-no para comissariar exposições.

Boltanski a ser o seu artista fetiche, Frank Stella, um dos seus grandes, Umberto Eco um mentor, Obrist defende a escrita à mão como um princípio básico do que é ser humano, protesta contra os novos nacionalismos e enfatiza a ideia de um diálogo global. A arte como um processo de crescimento acessível a todos e nunca como um mero recreio visual.

O seu arquivo põe ainda em destaque aquilo que um laboratório de arte deve sempre possuir, uma rede gigante de contactos reais com as pessoas que constroem a nossa vida. Amigos, colegas de trabalho, companheiros, conhecidos… O último dos quais se chama Álvaro Siza Vieira, entrevistado por Hans Ulrich Obrist exatamente na tarde da inauguração desta sua exposição no Porto.