Na época passada, quando viajou até à Madeira para defrontar o Marítimo na 5.ª ronda da Taça de Portugal, o Sporting vinha de quatro vitórias consecutivas e tinha sofrido uma única derrota na temporada inteira, com o LASK e na Liga Europa. Os leões foram eliminados pelos madeirenses e o desaire acabou por causar uma pequena onda de choque, com a equipa de Rúben Amorim a empatar com o Rio Ave em casa para o Campeonato escassos dias depois.

Esta quinta-feira, o Sporting recebia o Varzim na 4.ª ronda da Taça de Portugal vindo de oito vitórias consecutivas para todas as competições e com a última derrota a ter acontecido ainda em setembro. A ideia de Rúben Amorim, naturalmente, era aprender com os erros, evitar a eliminação precoce da segunda competição interna e afastar-se de um eventual final da série de resultados positivos.

Ficha de jogo

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Sporting-Varzim, 2-1

Quarta ronda da Taça de Portugal

Estádio José Alvalade, em Lisboa

Árbitro: André Narciso (AF Setúbal)

Sporting: João Virgínia, Ricardo Esgaio, Feddal, Matheus Reis, Gonçalo Esteves (Pedro Porro, 66′), Matheus Nunes, Daniel Bragança, Nuno Santos (Luís Neto, 90′), Bruno Tabata (Sarabia, 66′), Paulinho, Jovane (Pedro Gonçalves, 58′)

Suplentes não utilizados: André Paulo, João Palhinha, Marsá

Treinador: Rúben Amorim

Varzim: Ismael, Zé Ferreira (Luís Pinheiro, 60′), Cássio Scheid, André Micael, João Reis, André Leão, Assis, Nuno Valente (Murilo, 60′), Zé Tiago (Agdon, 71′), Heliardo (Lessinho, 90′), Tavinho

Suplentes não utilizados: Ricardo Nunes, George Ofosu, Tiago Cerveira

Treinador: António Barbosa

Golos: Pedro Gonçalves (67′ e 88′, gp), Heliardo (78′, gp)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Murilo (87′ e 90+3′); cartão vermelho por acumulação (90+3′)

“Se formos jogar com o Varzim e deixarmos andar e correr o jogo, podemos perder, ser eliminados e falhar esta ligação com os adeptos. Portanto, facilitismo zero neste jogo. Queremos ganhar e jogar bem. E, principalmente, manter o ritmo para manter os adeptos bem vivos, porque vamos precisar brevemente (…) Preparámos bem esta semana, este jogo, com os jogadores que tivemos. Vamos manter a nossa matriz e levar os nossos jogos muito a sério, sabendo que este resultado vai ter uma grande influência na próxima série e precisamos de começar bem, como começámos a última, com o Belenenses. Volto a dizer: acredito em todos os jogadores e tivemos tempo para preparar uma equipa que se vai apresentar forte”, disse o treinador leonino na antevisão da partida.

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Depois da paragem para os compromissos das seleções, o Sporting voltava então à ação — antes da jornada decisiva na Liga dos Campeões contra o Borussia Dortmund e do recomeço do Campeonato. Sem Coates nem Gonçalo Inácio, ambos com problemas físicos, Amorim contava com os regressos de Luís Neto e Pedro Porro mas não lançava nenhum para a titularidade e fazia a habitual revolução no onze: Virgínia, Esgaio, Gonçalo Esteves, Bragança, Tabata e Jovane começavam todos de início, com Feddal, Matheus Reis, Matheus Nunes, Nuno Santos e Paulinho a serem as constantes. Tiago Tomás, com uma amigdalite, foi baixa de última hora.  Do outro lado, António Barbosa procurava o “improvável não impossível”, como disse na antevisão, para uma equipa que está no penúltimo lugar da Segunda Liga mas eliminou o Marítimo na ronda anterior da Taça de Portugal.

Daniel Bragança durante o jogo entre o Sporting Clube de Portugal e o Varzim Sport Club no estádio da Alvalade, a contar para a 4ª eliminatória da Taça de Portugal 2021/22. Lisboa, 18 de Novembro de 2021. FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Daniel Bragança voltou a ser o capitão de equipa dos leões

De forma natural, o Sporting começou a partida de forma dominante e pressionante, colocando a primeira linha muito subida no relvado e restringindo o jogo ao meio-campo adversário. O Varzim teve muitas dificuldades para sair sequer do último terço no quarto de hora inicial, com os leões a não permitirem espaço à equipa de António Barbosa. O conjunto de Rúben Amorim atacava predominantemente pela esquerda, onde Nuno Santos se ia evidenciando como um dos melhores jogadores em campo e Matheus Reis, que estava a atuar no trio de centrais, a desequilibrar sempre que subia no relvado. Matheus Nunes combinava muitas vezes com o ala leonino e o Sporting procurava essencialmente cruzar para a grande área à procura de um desvio de Paulinho, Jovane ou Tabata.

Ainda assim, era do lado direito que ia surgindo o grande inconformado dos leões. Gonçalo Esteves era normalmente lançado com passes longos à procura da profundidade e oferecia um grande comprimento à equipa, desequilibrando até à linha de fundo para depois procurar finalizações na área. Desse lado, na zona do meio-campo e de forma já habitual, Daniel Bragança era um verdadeiro pêndulo. Ainda assim, e apesar de ter o controlo do jogo e a total predominância no meio-campo adversário, o Sporting demorou muito tempo a criar verdadeiras oportunidades de golo e até poderia ter sido surpreendido: na primeira vez em que o Varzim conseguiu soltar o contra-ataque, Heliardo soltou Zé Tiago mas o jogador, totalmente isolado e na cara de João Virgínia, não conseguiu rematar e acabou desarmado pela defesa leonina (20′).

Gonçalo Esteves e João Reis durante o jogo entre o Sporting Clube de Portugal e o Varzim Sport Club no estádio da Alvalade, a contar para a 4ª eliminatória da Taça de Portugal 2021/22. Lisboa, 18 de Novembro de 2021. FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Gonçalo Esteves foi um dos principais desequilibradores da equipa de Rúben Amorim na primeira parte

O Sporting respondeu por intermédio de Daniel Bragança, que tirou um grande remate de pé esquerdo e de fora de área que Ismael afastou com uma enorme defesa (29′) — uma das primeiras de muitas que o guarda-redes acabaria por realizar. Pouco depois, do outro lado, o Varzim voltou a assustar e obrigou João Virgínia a uma intervenção atenta a um remate de Nuno Valente na sequência de um contra-ataque (32′). Os poveiros ainda colocaram mesmo a bola no interior da baliza, por intermédio de Heliardo, mas o golo foi anulado por fora de jogo do avançado (33′). Pouco depois, numa fase já bastante aberta e descomplexada da partida, Jovane acertou em cheio na trave de livre direto (37′). Até ao intervalo, ambos os guarda-redes tiveram oportunidade de voltar a brilhar: Ismael defendeu um remate de Matheus Nunes depois de o médio tirar um defesa da frente na grande área (41′) e João Virgínia evitou o golo de Zé Ferreira (45′), com Tavinho a atirar à malha lateral já nos descontos (45+2′).

Na ida para o intervalo, existia a ideia clara de que qualquer uma das equipas poderia estar a ganhar: se o Sporting teve mais bola e mais domínio, o Varzim teve as oportunidades mais claras e poderia já estar a surpreender em Alvalade. Os leões precisavam de ser mais assertivos, tanto no último passe como na finalização, e coroar dessa forma as exibições que Nuno Santos e Gonçalo Esteves iam realizando.

O Sporting entrou na segunda parte novamente muito ligado ao jogo, com Tabata a rematar ao lado logo nos primeiros instantes (47′) e Matheus Reis a forçar Ismael a mais uma defesa atenta (51′), mas o ritmo depressa quebrou e a partida perdeu algumas características. Ainda antes de estar cumprida uma hora de jogo, os leões sofreram um revés: Jovane lesionou-se sozinho na zona do joelho esquerdo, ainda tentou regressar mas acabou mesmo por ser substituído por Pote. Instantes depois, no Varzim, foi Zé Ferreira a sair com problemas físicos e a ser rendido por Luís Pinheiro, com António Barbosa a aproveitar para também trocar Nuno Valente por Murilo.

Por esta altura, porém, pouco mais acontecia. O Varzim estava remetido ao próprio meio-campo e não conseguia sair como havia feito na primeira parte e o Sporting não criava oportunidades de golo, realizando muitos cruzamentos sem qualquer consequência. Rúben Amorim voltou a mexer para espicaçar a equipa e lançou dois titulares, Pedro Porro e Sarabia, para os lugares de Gonçalo Esteves e Tabata. O impacto foi quase imediato: na primeira vez em que tocou na bola, Sarabia recebeu de Nuno Santos na esquerda e cruzou rasteiro para a grande área, onde Paulinho falhou o desvio de calcanhar ao primeiro poste mas Pote foi inevitável ao segundo (67′). Os leões chegavam finalmente à vantagem a pouco mais de 20 minutos do fim e o avançado espanhol mostrava, mais uma vez, que é o dono de grande parte da criatividade do ataque do Sporting.

O Sporting parecia ter o jogo controlado e ia gerindo a vantagem com bola e completamente no interior do meio-campo adversário. A menos de um quarto de hora do fim, contudo, aconteceu o inesperado: Murilo apareceu em velocidade na grande área depois de um passe em profundidade e o árbitro da partida assinalou falta de Nuno Santos sobre o avançado, com Heliardo a converter a grande penalidade para empatar o marcador em Alvalade e relançar a eliminatória para os últimos minutos (78′). O Varzim chegava ao golo na primeira vez em que se aproximou da baliza de João Virgínia em toda a segunda parte e obrigava os leões a uma reta final de busca total pelo golo da vitória.

Já nos últimos minutos, porém, a sorte inverteu-se. Pedro Porro foi carregado em falta por João Reis na grande área do Varzim e Pote, na conversão da grande penalidade, bisou e empurrou o Sporting para a próxima fase da Taça de Portugal (88′). Até ao fim, Murilo ainda foi expulso por acumulação de cartões amarelos — ambos por protestos. Os leões precisaram de lançar algumas das principais figuras, o Varzim fez uma boa primeira parte e causou muitos problemas em Alvalade mas a equipa de Rúben Amorim conseguiu mesmo somar a nona vitória consecutiva e seguir em frente num dos principais objetivos da temporada. Para isso, muito pode agradecer a Pedro Gonçalves, que marcou dois golos, a Sarabia, que fez a assistência para o primeiro golo, e a Pedro Porro, que sofreu o penálti: com dois espanhóis, esta equipa dança a Potes cheios de flamenco.