O Benfica rematou forte na crise no último jogo – vitória por claros 6-1 frente ao Sp. Braga –, mas a bola não foi para muito longe. Nem era muito expectável que assim fosse, visto que os encarnados vinham de resultados algo inconclusivos, como o 3-3 em Guimarães, ou mesmo negativos, como a derrota na Luz frente ao Portimonense, o empate no Estoril e as duas goleadas impostas pelo Bayern. Importa trazer o contexto ao de cima, para perceber que o Benfica não podia hipotecar um dos objetivos da temporada, a Taça de Portugal, ainda no mês de novembro e a jogar em casa. O encontro desta sexta-feira à noite, frente ao P. Ferreira, não era decisivo à primeira vista, mas importante para que a equipa de Jorge Jesus pudesse encetar uma melhor fase.

E foi o próprio treinador do Benfica, na antevisão, que acabou por explicar, mesmo ao início não sabendo “qual é o jogo mais importante”, ser mais importante, ou pelo menos prudente, colocar as “fichas todas” na Taça de Portugal, mesmo que o próximo jogo das águias, a disputar-se em Camp Nou frente ao Barcelona, seja decisivo para continuar a caminhada (sempre muito bem paga) na Liga dos Campeões. Haverá ainda também a lembrança de que a última eliminatória da Taça, frente ao Trofense, foi resolvida depois do prolongamento, antes da receção ao Bayern. JJ disse que a Taça é uma “paixão antiga” que todos, acrescentando que na Liga dos Campeões o objetivo estava já “alcançado”. “O primeiro grande objetivo do Benfica [na Champions] foi alcançado. À partida ninguém nos dava hipóteses de passar, com Barcelona e Bayern, mas estamos a discutir a passagem contra o Barcelona e, como treinador do Benfica, sinto-me muito orgulhoso”, explicou.

Depois, Jesus aproveitou uma questão, roubou a expressão e aplicou-a na sua resposta: “Gostei da expressão ‘as fichas todas’. Sou um viciado em jogo e essas fichas são um tema giro para colocar neste momento. Primeiro penso no primeiro jogo. O jogo com o P. Ferreira é com o objetivo de conquistar um troféu. O jogo da Liga dos Campeões é para tentar passar. Podemos sonhar conquistar esse troféu, ando há muitos anos a sonhar com ele. Mas é completamente diferente. Onde vou apostar as fichas todas, pois sei que estão disponíveis para poder apostar mais, vai ser amanhã [esta sexta-feira]”.

Do outro lado da trincheira estaria Jorge Simão e o seu P. Ferreira, à espreita de conseguir igualar as várias batalhas de uma guerra de pelo menos 90 minutos e para a qual os castores tinham pouco favoritismo. E se Jorge Jesus pegou na analogia das fichas de póquer, Simão lembrou-se das casas de apostas: “Uma boa forma de perceber estas coisas é consultar as casas de apostas. Não tenho claro como chegam aos valores, mas diria que a percentagem de vitória ronda os cinco e os 10% [para o Paços de Ferreira]. Acho que é o número que está em cima da mesa. Teoricamente, o favoritismo está todo do lado do Benfica, compete-nos agarrar e lutar por essa percentagem”.

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“Acima de tudo, temos de ter um extremo rigor no nosso jogo, se calhar com maior incidência na parte defensiva. Penso que o rigor nos nossos comportamentos e uma percentagem de alguma sorte, que às vezes pode ser decisiva, serão a chave do jogo”, disse Jorge Simão, que admitiu dúvidas relativamente ao onze que Jorge Jesus iria apresentar, até pela existência do tal jogo em Barcelona. “Tenho dúvidas nos nomes do onze [do Benfica], mas não no que eles vão à procura. Preparámo-nos para os comportamentos que iremos encontrar”, garantiu o treinador português de 45 anos.

Sem surpresa, os números contavam uma história claramente favorável ao Benfica. Mesmo apesar de não ter perdido nos últimos três jogos fora de casa, a equipa de Jorge Simão apenas marcou um golo nos últimos quatro, com o Benfica a marcar e a sofrer nos últimos quatro encontros. Contra o favoritismo adversário, contra o público, contra um adversário claramente favorito. O Paços partia por baixo em termos teóricos, mas pelas 20h45, quando Manuel Oliveira apitou, começava tudo zero.

Sem vários titulares habituais, como João Mário, Otamendi, Yaremchuk e, claro, o lesionado Lucas Veríssimo, de fora até ao final da temporada, Jorge Jesus lançou em campo Radonjic (para o lugar do também ausente Gilberto), Everton, Helton Leite (Vlachodimos ficou de fora), Morato e as duas grandes novidades: André Almeida adaptado a central, com Ferro a ficar no banco, e Gedson como motor do meio campo. O médio português seria mesmo a grande novidade, visto que não tinha nem 50 minutos esta época. Além disso, Gedson não era titular do Benfica há quase dois anos.

O Benfica não começou mal o jogo, mas cedo se percebeu que o P. Ferreira não vinha estático para o jogo. Ou seja, mesmo que defendesse várias vezes em bloco médio ou mesmo baixo, vinha para tentar o golo. Houve alguns períodos da primeira parte em que teve mais bola, mesmo que esta tenho estado sem grande surpresa do lado encarnado, e, mesmo sem remates enquadrados, assustou Helton Leite por duas vezes (Lucas Silva aos 24′ e 38′). Mas, por falar em guarda-redes, foi mesmo o do P. Ferreira a estar em destaque.

Com o jogo a animar por volta dos 15′, Igor Vekic foi chamado a boas intervenções, sendo que pelo meio viu Rafa acertar no poste (20′). Três minutos antes, o guarda-redes esloveno negou o golo a Darwin e depois a André Almeida (29′) e Everton (42′). E se nos primeiros minutos o jogo encarnado passou quase todo pelo lado esquerdo e Darwin estava sozinho na área ou deixava-a órfã quando se movimentava, com Everton Cebolinha e Rafa a entrarem mais nas combinações e diagonais o Benfica tornou-se mais perigoso. O jogo chegaria empatado sem golos ao intervalo, com grande destaque para Vekic.

E a segunda parte do jogo 400 de Jorge Jesus ao serviço das águias dificilmente poderia ter começado pior. Radonjic lesionou-se (entrou Lázaro) aos 51′ e cinco minutos depois surge o primeiro golo na Luz por um jogador do Benfica… emprestado ao P. Ferreira. Ataque da equipa da Capital do Móvel pela esquerda, saiu bola para a área encarnada e Vertonghen cortou como conseguiu, mas mal. No meio da área e com a bola redonda e bem a jeito, Nuno Santos rematou em jeito de pé esquerdo e bateu Helton Leite. Não festejou, pediu desculpa, mas o mal estava feito. O Benfica seguia a perder para os últimos 40 minutos.

Os encarnados podiam ter dado de si, mas não. Com Pizzi e Taarabt a entrarem para os lugares de Gedson e André Almeida, o Benfica foi atrás do jogo e rapidamente acertou pela segunda vez nos ferros da equipa forasteira. Pizzi, num dos seus passes clássicos, descobriu Darwin na área. O uruguaio teve um sentido de baliza e de jogo acima da média e cabeceou em balão de costas para a baliza. Igor tinha saído da baliza, mas a bola pingou na sua trave (64′). Ainda não era desta que o Benfica fazia golo. E também não foi antes de Darwin ser substituído, quando em boa posição pela direita, rematou por cima. Saltaram então Seferovic e Gonçalo Ramos para o relvado, num vespertino tudo por tudo de JJ.

Viria a acontecer golo, sim, mas através de um defesa. E é simples de explicar: de longe, descaído pela direita, Grimaldo rematou muito forte e com colocação. Estava feito o empate aos 78′ com um golo de belo efeito. Pouco depois, com o Benfica a ser embalado pelos adeptos (esteve cerca de um terço da casa), Seferovic consumou a reviravolta (81′). Após um excelente cruzamento de Taarabt, Igor Vekic deu um passe em frente e recuou, ficando em má posição para defender o cabeceamento do suíço. Estava feito o 2-1.

Passados seis minutos, mais um golo: Rafa rematou de fora da área e rasteiro, aos 87′, e bateu Igor (3-1). Por esta altura, o Paços de Ferreira estava mais balançado para a frente e perante jogadores com os do Benfica, isto pode sempre acontecer. Até ao fim, Everton ainda foi a tempo de fazer o 4-1. Everton finalizou com classe na cara do guarda-redes adversário após passe de Seferovic.

O Benfica esteve a perder e vence com mérito (com números que castigam o Paços), com destaque para as entradas de Pizzi e Taarabt em jogo, também a de Seferovic que regressou com golo e oportunidade. O jogo 400 de Jesus pelas águias acabou por correr bem, mas porque as tais “fichas” estavam, afinal, bem guardadas no bolso do treinador português. Segue-se Barcelona.