A variante AY.4.2, uma sublinhagem da dominante Delta que se está a disseminar no Reino Unido e já é considerada uma variante de interesse, foi referida muito brevemente na reunião do Infarmed, esta sexta-feira, durante a parte aberta ao público. Mas voltou a ser tema de conversa à porta fechada.

Vacinar crianças e uma mutação mais contagiosa a crescer. O que foi dito à porta fechada

Numa e noutra vez pouco foi dito sobre a variante que apresenta uma tendência crescente tanto em Portugal como no Reino Unido — onde se analisa geneticamente muitos mais testes positivos para o coronavírus do que em Portugal.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Pedro Pinto Leite, da Direção-Geral de Saúde, disse na reunião que, o Algarve, de acordo com as amostras analisadas pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa) e a correspondente avaliação epidemiológica, “é uma região na qual achamos que poderá haver transmissão comunitária da AY.4.2, mais prevalente no Reino Unido”.

Sub-linhagem AY.4.2 da variante Delta triplicou em outubro em Portugal

“Após várias semanas com frequências relativas menores ou iguais a 0,5% (isto é, três ou menos casos por semana), verificou-se um aumento da circulação desta sub-linhagem nas semanas 42 (18-24 de outubro), revelando uma frequência relativa tendencialmente crescente de 1,8% (semana 42) para 2,9% (semana 44, valor provisório)”, lê-se no relatório no Insa, de 16 de novembro. No espaço de uma semana foram detetados mais 10 casos.

Os 38 casos detetados até ao momento não correspondem ao número total de casos existentes em Portugal, mas ao número de amostras, com estas características genéticas, analisadas na seleção feita pelo Insa (que ronda as 500 todas as semanas).

Mais dez casos de variante Delta AY.4.2 em Portugal elevam total para 38. Maioria dos casos no Algarve

“Os novos casos detetados desde o último relatório representam a continuidade de cadeias de transmissão previamente identificadas, bem como novas introduções“, lê-se no relatório, acrescentando informação ao que foi dito por Pedro Leite Pinto, esta sexta-feira.

Esta sublinhagem foi já detetada em todas as regiões, à exceção da Região Autónoma dos Açores, mantendo a sua maior circulação na região do Algarve, onde foram detetados 25 casos até à data”, lê-se no relatório.

O que se sabe sobre a AY.4.2, a nova variante que nasceu da Delta?

Inglaterra: crescimento diário na proporção da AY.4.2 de 2,8%

Em Inglaterra, um relatório divulgado esta quinta-feira, mostra que 11,8% das 841 amostras analisadas correspondiam à sublinhagem AY.4.2. Os investigadores estimam um crescimento diário na proporção da sublinhagem na ordem de 2,8%. A sublinhagem AY.4, “mãe” da AY.4.2 e “filha” da Delta, representa 57,6% das amostras analisadas.

“AY4.2 apareceu pela primeira vez por volta de maio-junho deste ano e tem vindo gradualmente a superar as outras sublinhagens da Delta, embora não muito rapidamente, e continua a aparecer em apenas uma pequena fração das infeções (menos de 20%)”, disse Paul Hunter, professor de Medicina na Faculdade de Medicina de Norwich, num comentário ao relatório.

Atualmente, parece ser cerca de 10% mais infecciosa do que as outras variantes Delta, embora não se tenha a certeza porque é assim”, acrescentou Paul Hunter.

O relatório baseia-se em testes PCR e questionários a uma amostra representativa da população inglesa — neste caso, entre 19 de outubro e 5 de novembro — e revelou que as pessoas infetadas com esta variante reportaram menos vezes sintomas e quando o fizeram não eram os sintomas normalmente associados à Covid-19 (como febre, tosse persistente ou perda de paladar e olfato).

Paul Hunter alertou, no entanto, que ainda é cedo para se tirarem conclusões sobre os sintomas ou impacto da doença causada pela AY.4.2. “Se as infeções acontecerem em populações jovens ou onde a taxa de vacinação é relativamente alta, isso pode justificar as diferenças“, disse, por sua vez, Simon Clarke, professor de Microbiologia Celular da Universidade de Reading.

Mas se for mais transmissível e infetar mais pessoas, vai sempre acabar por haver mais pessoas doentes, mesmo que na maior parte das pessoas cause menos sintomas, concluiu Simon Clarke num comentário ao relatório.