Só o Liverpool, uma das melhores equipas do planeta, venceu esta época no Estádio do Dragão, perante um FC Porto que continua a fazer do seu estádio um quase imbatível castelo, com muralhas fortes. Antes desse jogo para a Liga dos Campeões, foi também na liga milionária que os azuis e brancos foram derrotados pela penúltima vez no seu reduto, também frente a uma equipa inglesa, o Chelsea. Antes disso? O Sp. Braga para as meias-finais da Taça de Portugal da época passada. Moral da história? Raramente a equipa de Sérgio Conceição perde em casa, pelo que o Feirense tinha uma tarefa muitíssimo complicada este sábado, num encontro de mata mata, como diria Scolari, para a 4.ª eliminatória da Taça de Portugal.

Com 21 encontros entre os dois conjuntos, não será surpresa que o FC Porto leve vantagem, com 16 vitórias, contra apenas uma da equipa de Santa Maria da Feira. No entanto, o conjunto orientado por Rui Ferreira levava ao Dragão um segundo lugar na II Liga, sempre um campeonato competitivo e complicado, no qual o Feirense é a segunda melhor defesa, com 9 golos sofridos. Os da casa contestavam com argumentos dos mais fortes: melhor ataque e liderança da I Liga. Além disso, a equipa de Conceição marcou golos em todos os jogos disputados no Estádio do Dragão esta temporada.

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E para o treinador do FC Porto, importava referir o tal “trajeto interessante” do Feirense na II Liga, destacando ainda “que nos jogos da Taça de Portugal acontecem algumas surpresas, precisamente por essa motivação que as equipas têm na disputa desta competição”. “Estamos alertados e preparados para isso. O adversário tem feito um trajeto interessante na II Liga. Comparo estas equipas mais fortes desta II Liga a muitas das que jogam na I Liga. Cabe-nos contrariar um Feirense com muita motivação, uma ideia de jogo bem definida e não penso que isso irá mudar”, afirmou o líder dos portistas na antevisão ao encontro desta noite.

Com o Liverpool a espreitar já a meio da semana, num jogo importantíssimo e muito difícil, Sérgio Conceição disse que ia fazer o que pensava ser melhor para o jogo contra o Feirense, deixando para segundas núpcias o encontro em Inglaterra, daqui a quatro dias. No entanto, três jogadores dos mais importantes não deveriam estar disponíveis: “A Taça é a prioridade maior, até porque é o próximo jogo. A gestão que temos de fazer tem a ver com este momento, com as viagens que fizeram, com os jogos que jogaram, mas a pensar nesta partida. O Liverpool vem depois”, afirmou, explicando depois sobre os jogadores mais limitados: “Há jogadores que estão no limite. O Marcano saiu do treino e acho difícil dar o seu contributo, o Pepe também está com dificuldades. O Wendell voltou, mas não está ainda a 100 por cento”.

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Os atletas “no limite” estarão muito provavelmente ligados aos jogos das seleções, que obrigam o campeonato a parar e fazem “com que não seja fácil preparar o jogo que se segue”. “Os jogadores chegam das seleções em contextos diferentes. Uns jogam, o que é bom, e têm jogado muito connosco, outros não. Chegam em patamares diferentes. Essa gestão não é fácil e, muitas vezes, obriga-nos a utilizar quem preparou o jogo de uma forma mais cuidada e com mais tempo”, explicou.

Já Rui Ferreira, treinador do Feirense, frisou que o encontro no Dragão seria um “jogo de valorização” para os seus pupilos “num palco especial”. “Vamos levar a mesma ambição que temos demonstrado, a mesma motivação que temos demonstrado. Queremos fazer o melhor possível e levar para o Dragão o que temos feito. Mesmo nos jogos na Taça fizemos belos jogos. Queremos levar isso numa linha de raciocínio em termos de valorização. É uma questão importante para nós, queremos ir o mais longe possível. Sabemos onde vamos jogar, mas vamos tentar dar o nosso melhor”, garantiu, admitindo rotação na equipa: “Relativamente à gestão que temos feito, não iremos fugir dela”. Prometendo um plantel motivado, Rui Ferreira referiu que ia apresentar “uma equipa no máximo das suas capacidades, para tentar levar de vencida o jogo”.

Mas a equipa do Feirense não conseguiu fazer o suficiente para equilibrar as contas do jogo, muito por mérito do FC Porto, que mesmo com várias alterações no onze entrou com tudo. Logo aos 2′, Francisco Conceição, uma das novidades do seu pai, o treinador Sérgio Conceição, apareceu na cara de Arthur, mas o guarda-redes do Feirense fez bem a mancha, evitando males maiores logo após o apito inicial. Arthur não tinha, no entanto, quaisquer hipóteses quando Otávio serviu Evanilson. A bastar ao avançado brasileiro encostar no golo, colocou a bola na bancada, para desespero dos adeptos que este sábado marcaram presença no Estádio do Dragão.

Com Otávio a capitanear a equipa, mas desta vez da esquerda em vez da habitual direita, no entanto apenas como local de começo e nunca como um fim. Costuma ser Luis Diaz a abrir no corredor canhoto, mas com Otávio lá, era Francisco Conceição o jogador que esticava o jogo no ataque portista. E o FC Porto mostrou muito cedo que não vinha para tentar eventualmente e mais tarde que um golo caísse do céu frente a um adversário teoricamente mais fraco. Não. A equipa azul e branca entrou com tudo, criando jogadas rápidas, mas chegando ao golo numa bola parada, reflexo desse mesmo fluxo ofensivo. Na sequência de um livre marcado por Vitinha, Uribe apareceu sozinho a cabecear e fez o 1-0 aos 15′.

O médio colombiano quase fez o 2-0 aos 27′, num remate cruzado e forte, mas ao lado da baliza de Arthur, com o minuto seguinte a ver Evanilson, que não teve muita sorte no primeiro tempo, a acertar na trave. A dez minutos do final da primeira parte, o Feirense esteve perto do empate e assustou pela primeira e única vez Marchesin. Num lance de 2×2, a bola sobrou para João Paulo, com o avançado, na cara do argentino, a colocar a bola nas bancadas do Dragão.

O Feirense não conseguiu empatar o encontro e sofreu golo menos de cinco minutos depois. Lance de Francisco Conceição que passa a Manafá, que com um toque subtil faz a bola chegar a Otávio, capitão de equipa esta noite. Da direita da área, o luso-brasileiro rematou cruzado para dentro da baliza adversária. Já em cima do intervalo, na sequência de um pontapé de canto, a bola sobrou novamente para Otávio que apanhou o guarda-redes adversário já deitado e viu o seu remate subir pelo corpo do guardião do Feirense.

Tudo para o descanso no Dragão, com esclarecedores 3-0. Os adeptos portistas podiam, inclusivamente, ter visto mais golos, havendo vários lances de frisson na área da equipa de Santa Maria da Feira que não acabaram num remate enquadrado.

Com uma vantagem de três golos, o FC Porto entrou na mesma de forma séria e intensa no jogo, mas com o controlo que este pedia. Sem admiração, a equipa de Sérgio Conceição fez o 4-0, por Evanilson, que aproveitou uma oferta do Feirense para finalizar com classe na cara de Arthur. Por falar em ofertas, Vitinha perdeu a bola sendo o último homem do FC Porto, Marchesin ainda apareceu para negar o golo a Steven, mas Vargas rematou muito forte para reduzir a desvantagem (4-1, 68′).

O grande momento da noite, no entanto, visto estar garantida há muito tempo a continuação do FC Porto na Taça de Portugal, surgiria à entrada dos 20 minutos finais: Taremi foi derrubado em falta dentro da grande área do Feirense e o iraniano fez questão de deixar Francisco Conceição bater o penálti. O filho de Sérgio Conceição marcou a grande penalidade com classe e estreou-se a marcar pelo FC Porto ao jogo número 30. Chico foi a correr na direção do banco e abraçou o pai durante alguns segundos. Na bancada, familiares batiam palmas, houve até lágrimas.

Até ao final o marcador não mexeria mais e o único ponto negativo foi Otávio ter saído lesionado com queixas num joelho, mas saiu a andar e esteve a fazer gelo no banco durante o resto do encontro. Para a história fica a vitória claríssima do FC Porto, que ficou decidida cedo e com uma boa exibição. Depois de ter sido impedido de seguir em frente na Taça da Liga frente ao Santa Clara, Sérgio Conceição voltou a poupar e correu bem, com os habituais titulares a jogarem a um bom nível e os menos utilizados a quererem mostrar serviço. O Feirense está a fazer uma boa temporada na II Liga, mas foi frágil no Dragão, frente a um FC Porto que foi muito, muito competente. Segue-se Liverpool para os azuis e brancos.